Querido diário, hoje eu sai com umas amigas. Fomos a um novo bar. Um amigo delas estava lá e não parava de me galantear. Ele até era engraçado com seus xavecos cegos.
O que me cegou porem foi um outro cara que chegou depois. Ele parecia meio perdido, era amigo de todos na mesa, só eu não o conhecia. Ancorou por ali, pois naufragaria se continuasse a andar sozinho pelo bar.
Um ser um tanto enigmático, calado, observador. Olhava fundo em meus olhos e me deixou curiosa a ponto de eu puxar assunto. Conversamos bastante. O outro cara até saiu de perto. Ele me despia com suas perguntas e não tinha como evitar.
Mas, peraí, eu sou uma princesa! Puxei de volta todos meus panos nobres e ele veio junto, como em um cabo de guerra. Chegou bem próximo. Próximo demais para abraçarmos. Energias trocadas, ou energias roubadas. Foi bom abraçá-lo. Mais uma vez. Faça-se a brincadeira, eu ordeno! Abraços de peito, de amigo, de estranhos. Abraça, abraça. Toca os meus seios com as costas da mão.
Eu não permito que nenhum plebeu me toque dessa maneira, mas ele era tão diferente, tão especial. Embora eu não soubesse o por que, queria senti-lo. Na verdade o queria para mim. Mas ele parecia ser muito caro. Volátil talvez…. Desses que você paga, acha que vai tê-lo e ele some como fumaça.
Enfim, eu abusei bastante. Abracei demais, me sentindo superior, construindo estrelas, tentando ofuscar aquele brilho até a hora de ir embora…
A hora de ir embora… Pensei que me perderia sob a fumaça densa. Ele me beijou no canto da boca, tentei fugir e ele puxou de novo. Mais um beijo no canto, um pouco mais ao meio da boca. Modo estranho. Eu não queria, ele não fez um pingo de força física, mas não pude fugir. E só foi no canto da boca por que ele quis.
Não caçoe de mim, meu diário! Eu sou uma princesa… Mas ele… Ele eu não sei quem é. Após o beijo, virou as costas e simplesmente desapareceu, como mágica, por trás de sua capa. Creio que nunca mais o verei. E se o ver, ele não me reconhecerá. Não fui eu mesma aquela noite, e ele não parece ser o tipo de homem que dá uma segunda chance a uma mulher. Ainda mais a uma princesa como eu. Bela, porém fútil!
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