E se de repente eu vendesse tudo de material que eu conquistei até hoje, eu conseguiria alimentar minha alma por quanto tempo?
Essa pergunta me veio a mente quando ouvi uma frase de Fernando Pessoa, que incentiva a fazermos uma travessia, para sairmos da margem de nós mesmos.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” (Fernando Pessoa)
Eu sinto meu universo saturado, como se tivesse andado, andado e chegado no topo da montanha, tudo lindo, tudo em paz, mas nenhum lugar além para ir.
Meus velhos amigos se mantêm firmes, distantes mas sempre presentes. Os novos amigos, estão sempre próximos, mas com uma ausência que não me supre em nada, por que “sou o dono da minha própria verdade”, e “infelizmente eles gostam de mim”.
A vontade de buscar outros amigos ainda mais novos ou resgatar uns mais antigos, bate em minha mente constantemente. Buscar algo além, colorido, atrelado, enlaçado talvez.
Vender minha empresa, ou arrendar, pra permitir o arrependimento. Alugar minha casa pra outras almas que reciclem toda aquela energia minha que mora ali a tanto tempo, e que não basta mais por cores nas paredes para altera-las, saturadas.
Aplicar toda essa receita em um fundo de rendimento e só manter o carro, só um pouquinho, só até ele me levar a algum lugar longe desse topo de montanha que eu cheguei. Talvez um mar, outras montanhas, talvez algum vilarejo longínquo, com poucos habitantes, casebres coloridos e ruas estreitas das quais eu não precisarei mais de meu carro.
Viver com pouco, desconectado, criando, fazendo arte, vivendo do rendimento dos bens aplicados que minha vida somou até agora.
Dois cômodos, uma cozinha e um banheiro. Uma caminha gostosa e uma rede na varanda, que me permita deitar com uma prancheta no colo pra escrever meus textos, fazer meus desenhos. Me permita olhar a lua com paixão novamente.
Outro dia eu olhei a lua linda com total indiferença. Uma dessas amigas antigas me mandou recado “lembrei de você quando vi a lua”. E com esse recado eu lembrei de quem eu era: O cara que parava o que estivesse fazendo só pra olhar a lua. Saudade daquele cara. Talvez seja hora de parar.
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2 Comments
Quanto menos coisas um homem carrega, mais livre ele é. Ótimo texto.
você é doce…