Eu sou mesmo um homem bizarro, navegando por águas turvas procurando uma praia para atracar meu pequeno navio. Do mar eu vejo as costas, algumas com árvores portentosas, belas, areia branca, outras sem muito atrativo, com rochedos, que eu escolho pela segurança que parecem proporcionar.
Em algumas belas praias eu chego e descubro que não há frutos nas árvores, nem peixes para eu me sustentar. Então deixo e busco outras, e assim vou, de mar em mar.
As vezes de uma encosta eu consigo ver outra praia no horizonte e seduzido me ponho a navegar novamente, mas geralmente me iludo, e já é tarde pois a maré não me deixa voltar. Ou outras vezes até consigo voltar, mas geralmente destruo tudo antes de partir.
Sou um destruidor de mares, que busca a paz, que quer descansar em uma cabaninha simples, mas sempre acha que tem lugar melhor para construi-la e não sossego em minha busca.
Já achei praias com muitos peixes, lenhas e frutas, mas que eram feias, de areia pedregosa, desconfortável. Já achei praias de areia macia, mas com poucos recursos, e logo eu acordava faminto e não tinha o que comer. Já achei praias perfeitas e por esse meu ímpeto de desbravador, as abandonei, achando que conseguiria algo melhor, e quando voltei outro marinheiro já havia tomado posse.
Eu fico aqui, deitado na proa de meu pequeno navio, enquanto é noite e não enxergo nenhuma terra, olhando as estrelas e pensando nas praias que já estive. Fico enjoado com o vai e vem do mar e confuso, com vontade de atracar na próxima praia e me entregar ao destino. Me doar ao lugar sem examinar ou exigir muito, e morrer de fome, de frio, de cansaço ou devorado por feras locais se assim tiver que ser.
Por outro lado eu fico aqui olhando estrelas e me pergunto se, atracado não sentirei falta desse céu de alto mar, dessa sensação de liberdade, de poder ir e vir e ser dono do próprio destino…
A vida é tão confusa e eu preciso de respostas rápidas, pois estou agoniado e não posso mais destruir praias….
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