Estávamos andando de carro em 1998, em uma cidade grande, dessas que tem semáforo nas esquinas. Eu tinha 12 anos, e meu pai fez uma besteira no trânsito. Ele xingou o outro motorista, como se estivesse certo. E naquele momento, eu percebi que nossos pais são seres humanos passíveis de erro. O que não diminui o amor que sentimos por eles.
O que é difícil porém, é, mediante o amor, definir em quais pontos alguém está errado. E até hoje, com meus 42, eu me perco em alguns conselhos.
Meu pai uma vez me disse “Corra atrás do que vc deseja. Lute pra conquistar quem você ama”.
Isso é um lema para mim, que sou extremamente emocional, quase passional. Só que as vezes penso que meu pai me ensinou errado, ou esqueceu de me ensinar qual é o limite.
Em tempos em que notícias recorrentes de feminicídios pipocam nos jornais, ex-namorados matando mulheres por não aceitar o término, meu romantismo sobre a lição de meu pai, passou a dar medo em quem o recebe.
Ja por duas vezes, ex-namoradas me temeram, por que talvez em meu espírito apaixonado, eu confunda os limites de insistência e teimosia.
Já fui barrado, bloqueado, impedido, ignorado, deixado em uma sarjeta longe de casa, na chuva, no frio, com rosas nas mãos, mas nunca ultrapassei um limite físico.
É engraçado que, com as redes sociais, o bloqueio se dá virtualmente, como se fosse efetivo. E mesmo sabendo que não é efetivo, a pessoa faz. Pode ser só pra sinalizar algo que poderia ser dito. Mas é doloroso ter canais de comunicação cortados assim.
Que mundo vivemos em que tudo é fragmentado, partido e repartido? Onde o amor se confunde com ódio, e pessoas deixam de enxergar por medo? Creio que não seja medo do outro de fato, mas sim medos de seus próprios sentimentos…
Eu amo muito todo mundo que um dia me fez bem. E é impossível pensar em fazer mal a essa pessoa, mesmo que ela esteja me fazendo muito mal no momento.
Padre Fabio de Melo, um dia escreveu “Um dos resultados da gratidão em nós, é não permitir que o mal que o outro nos provoca, nos faça esquecer o bem que ele um dia nos fez”. E eu sou grato ao que se foi.
Então eu concluo:
Enxergue as pessoas pela sua história de vida. Sobre mim, perceba que um cara que tem amizade sincera com todas as suas ex-namoradas, não irá fazer mal a você só por que está lhe dizendo o quanto ama. Sobretudo, meus pais me ensinaram a ter empatia e respeito. E nisso eles não erraram.
Machuca tanto ser julgado a esse ponto. E mesmo que eu compreenda que as vezes o amor assusta, não justifica nenhuma agressão.
Para nós, com coração tão grande, ser tratado assim dói tanto quanto uma facada no peito.
(mas eu jamais revidaria a isso
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