Sentado na janela, sob a luz do luar, meu copo estava vazio. Eu não enxergava qual eram as frutas dentro dele e tinha que enfiar o dedo para trazê-las aleatoriamente a minha boca. Ora o doce da ameixa, ora o azedo provocante do morango, ora o amargo, da casca que envolvia o doce.
A lua chamava minha atenção e quando eu voltava a olhar para dentro, minha vista ofuscada não conseguia enxergar meu outro corpo deitado na cama. Um corpo estranho deitado na cama. Eu podia flutuar por cima dele. Voar, percorrendo cada curva, em uma viagem longa de ida sem volta. Mas não tive autorização para decolar…
O que este ser faz aqui? O que veio buscar, o que veio trazer? Milhões de perguntas me vinham a mente enquanto eu sulgava as últimas frutas já sem álcool, as buscando com o dedo e puxando com a língua.
Minha mente ia e vinha da sanidade que questiona. E em vários momentos simplesmente deixou de questionar, como se tivesse que ser assim. E se tem que ser assim, por que tudo acontecia daquela maneira? O que veio buscar, o que veio trazer, se nada soma, nada subtrai?
Não importa. A brisa era agradável, os três sabores me entorpeciam tanto quanto o cheiro ruim que impregnava a casa, e eu dei o que me é de natureza dar. “É um lugar que me absorve”…. São as únicas palavras que restaram sobre a mesa como prova de que existiu. E foi eu mesmo que as disse….
Eu fui até a loja da esquina para ver uma bicicleta nova. Era tudo o que eu esperava, bela, perfeita, inteira…mas fiquei do lado de fora, só olhando com as mãos na vitrine tampando o reflexo da luz da lua. Eu não posso alcança-la. Ouvi o som da catraca do metrô. Ela partia e então já era um ser inatingível. Virei as costas e voltei para meu mundo.
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1 Comment
Adoro, morangos e lua… não gosto de ameixas
mas gosto dos seus textos 😉