Eu vivo a 37 e nunca vivi isso. Aqui eu vivo a 23 anos. E de repente, em menos de 3 meses você vem e transforma todas as paisagens, todos os lugares, todos os cheiros em algo só seu, que eu não consigo retomar.
Cada rua que eu passo, algo me lembra você. Cada bar que eu entro, penso que fui ou poderia ter ido contigo. A floricultura, a academia, a manicure, aquela mesa de sempre no restaurante. O feijão…
E outras mesas. No shopping, aquela mesa, onde nos encontramos pela primeira vez, e outras tantas mesas que jantamos, bebemos, conversamos e rimos em tantos outros lugares.
Se alguém me fecha no trânsito, posso até ouvir você xingando para mim. E na pista que era seu caminho frequente, ou a outra que você ia por erro de não achar o caminho de volta. As curvas, o lugar das freadas, dos sustos. De todos os sustos.
E quando eu apago a luz do quarto, na hora de dormir, quase te ouço no escuro, dizendo “para, Claudio, cade você?”, implorando para eu estar logo na cama, para não te assustar. Ou quando ouço um pequeno cão latindo, ouço também sua risada gostosa e visualizo seu sorriso, pedindo para eu imita-lo.
Tem um quarto em minha casa que eu não entro mais, pois seu vazio me deixa tão vazio. Tão vazio quanto os cenários que te fotografei, tão vazio quanto sua vaga na garagem, ou os nichos do armário do banheiro, que ainda não foram reocupados.
Quando vem um cheiro de cigarro pela janela, imagino você fumando na varanda e a vontade que eu tinha de ir lá ficar com você, mas não ia, respeitando o espaço que seu signo te faz precisar. O espaço que eu não dei…
No supermercado eu me lembro de você apalpando os pães, ou questionando as marcas de frios para o atendente, como se fizesse alguma diferença. Meus hábitos de compra mudaram. Não compro frutas, mas compro açais, geleias e coisinhas que nunca consumi. Seu zelo, seu sistema, seu jeitinho, sua carinha de menina travessa, perdida nos corredores quando faziamos caminhos diferentes.
Até na hora de trocar os lixos da cozinha eu me lembro de você. Da mesma carinha travessa roubando sacos e sacos de supermercado. Sacos que não acabam nunca. Tem muito saquinho de supermercado no armário da lavanderia.
E quando as vezes, o barulho da porta do vizinho é tão alto que parece minha própria porta, então me sobe um frio na espinha, pensando que pode ser você, lembrando do dia que você chegou de surpresa e me fez o homem mais feliz do mundo. Como podia acontecer de novo…
Me lembro do seu jeito de tirar minhas dúvidas, paciente, repetindo várias vezes a mesma frase que você quer que seja acreditada. Ou seu jeito de contar suas histórias, demoradamente, dando os mínimos detalhes de coisas pouco importantes, me deixando impaciente para saber logo o fim…
Como agora, eu repito como você, algo que é importante para mim. Todos os planos, todos os feitos, todas as conversas, toda você. Você é tudo para mim, e esse vazio me consome e vai transformando tudo em vazio. Me tira o ar, me tira a alma. Só me resta o tudo ao redor que não me deixa esquecer.
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