A última vez que eu a vi, não estávamos tão amigos. Ainda assim, nos abraçamos e nos despedimos como pessoas civilizadas que se respeitam.
À distância, os gestos eram secos. Cada um em sua rotina, sem interferir na rotina alheia. Algumas palavras trocadas, algumas desagradáveis.
Então, vinte dias depois, com seu iminente retorno, todos os movimentos voltam a ser feitos com ela em minha cabeça. Como se eu precisasse me mexer para ajuda-la, para protegê-la. Não, eu não precisava, e nem devia. Nem sabia quem eu iria encontrar.
Então o interfone toca, e pela porta de vidro posso ve-la, linda, com um vestido solto e cabelos voando ao vento. Cara fechada e semblante sério. Por alguns segundos.
Alguns segundos que durou aquela brincadeira. A feição abriu, o sorriso abriu, os braços abriram e fecharam no melhor abraço do mundo. As palavras mais simples dissolvendo vinte dias de não sei o que. Que saudade. “Que saudade desse cheiro, desse abraço!”…
Não sei o que acontece, não sei o que vai acontecer. Mas é mais forte do que eu. Tenho só que cuidar, tenho só que curtir, tenho só que assistir, ou apenas observar. Não sei. E nem sei se devo saber. Acho que devo apenas sentir, assim, com os braços sempre abertos, independente de sua cara fechada… Que as vezes se abre em deliciosos sorrisos e faz tudo valer a pena.
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