A certeza me sufoca. Talvez o melhor é andar distraído, deixando as coisas acontecerem naturalmente.
O sistema criado em meu próprio cérebro já se acostumou a caminhar sozinho, curtindo as pessoas que passam por mim, indo e vindo, em um balanço constante. Quando alguém sincroniza e começa a balançar junto, surge o incômodo. Parecido com aquele incômodo de se entrar em um elevador com um desconhecido e descobrir que ele usa uma roupa igual a sua.
Serão 7 andares de timidez e constrangimento que você pode fazer o que for mas tudo vai continuar. Você pode se divertir no início, dar risadas e aproveitar o acaso para conhecer uma nova pessoa. Mas depois, quando o riso apagar e enquanto as portas do elevador não se abrirem, o sorriso será amarelado e as bochechas chegarão a tremer. É assim….
Então eu prefiro subir de escadas, me esforçar um pouco mais, mas ter oportunidades. De tropeçar e cair, ou de cruzar com outras pessoas. O sistema de meu cérebro criou regras que me parecem normais, mas preso neste elevador, eu começo a pensar que não são tão normais assim. Penso que não era para eu estar tão incomodado, pois de uma forma ou outra, eu estou subindo para onde quero, da maneira que sempre quis.
Então o que importa que as roupas são iguais? O acaso é importante. É bom não saber para que lado essa pessoa vai caminhar quando sair do elevador. Poxa, estou ficando com medo. Só de imaginar que ela pode se virar para o mesmo lado que eu. E caminharemos juntos até o final do corredor, de roupas iguaizinhas, e as pessoas olhando, e a gente com sorrisos tolos querendo dizer “não nos conhecemos, foi o acaso”. Já pensou se estivermos indo para o mesmo lugar? Para a mesma sala???
Poxa, eu não quero mais caminhar sozinho, mas esse sistema criado é realmente cruel. Ele necessita confusão, sentimentos mal resolvidos, balanços, caos. De forma que nenhuma partícula me siga por muito tempo. Apenas passe por mim, toque minhas mãos, provoque calafrios, fagulhas de energia e se vá, respeitando as probabilidades de por ventura se cruzar comigo de novo no futuro. Embora, o maior problema é que eu sei que esse sistema é falho. Eu sei que eu escolhi entrar nesse elevador a ir de escada, por que eu sei que sou preguiçoso. E eu sei que quando sair vou desejar outro elevador e outro encontro.
Minhas bochechas estão tremendo. Os músculos do sorriso já não sorriem espontaneamente e eu não sei se pressiono qualquer outro número do elevador para ele parar antes e eu sair correndo, ou se pressiono o botão de emergência, para ele parar agora, com as portas fechadas, e então encaro a pessoa até que isso seja reprogramado em meu cérebro e essa agonia se torne comum.
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