Mariana nasceu em berço de ouro. Família tradicional e rica no interior do estado. Desde criança estudou nos melhores colégios, fez curso de piano, ballet, inglês. Joyce, não.
Joyce nasceu com parteira, no meio do sertão nordestino. Seus pais trabalhavam na roça e ela cresceu ali mesmo, vendo a miséria rondando o barracão de sapê aonde moravam.
Aos 21, Mariana foi pra capital, fazer cursinho. Um ano depois entrou na faculdade de medicina. Joyce também foi pra capital, trabalhar, pra tentar dar uma vida melhor para sua familia no nordeste.
Mariana curtia festas, baladas. Era bonita, galanteada, todos os moços davam em cima dela e ela podia sair com quem ela quisesse. Joyce trabalhava de empregada doméstica, trabalhava muito, mal saia da casa da patroa. Ganhava uma miséria. Também era muito bonita e os moços também davam em cima dela.
Mariana usava roupas de grife, usava drogas, bebia e curtia a vida como ninguém. Enquanto isso, Joyce cansava de trabalhar tanto e ter tão pouco e começou procurar outros meios.
Mariana começou sua residência na faculdade de medicina, Joyce, cansada de ser galanteada, começou a se prostituir numa boate famosa.
Mariana começou a trabalhar também, ganhar um dinheiro bom como plantonista num bom hospital. Comprava roupas novas e sustentava seus vícios e baladas que nunca cessavam. Joyce pegava o mínimo possível para sobreviver e enviava todo resto para sua mãe no Nordeste.
Mariana engravidou de um cara qualquer que conheceu na balada, Joyce entrou no mobral para aprender a ler e escrever. O pai do filho de Mariana, nunca quis saber do filho. Enquanto isso, Joyce se cuidava ao extremo para não pegar doenças ou engravidar de seus clientes.
Os clientes de Joyce gostavam dela. Alguns gostavam tanto que pagavam muito mais do que ela cobrava. Cuidavam de verdade dela, zelavam pela sua pessoa. Joyce era uma boa pessoa. E sua mãe enfim tinha uma vida digna no Nordeste, uma casa modesta mas confortável, comida na geladeira e roupas boas para vestir.
Já Mariana estava sozinha no mundo. Seu filho era cuidado pela avó, que mal a via. A vida de Mariana era trabalhar, ganhar e gastar em seu mundinho próprio de ganâncias e diversão.
Joyce aprendeu a ler, não sabe muito além disso, mas sabe muito da vida. Mariana é uma doutora, pediatra, profissional competente, mas também não sabe muito além disso.
Eu fotografei a dra. Mariana uma vez: Ensaio para a coluna social de uma revista qualquer. Mulher elegante, fina e extremamente simpática. Também fotografei Joyce, para o site da boate aonde ela trabalha. Sua sensualidade se mistura com uma personalidade doce, e sua humildade mesclada a sua beleza brasileira a tornam uma pessoa cativante.
Cada uma com seus valores, são mulheres iguais.
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5 Comments
Eu vou na que tiver bunda grande!
Mulheres com suas lutas e desejos.
Somos todas iguais na verdade…lutas e sonhos diferentes, formas de ver o mundo diferentes, classes sociais diferentes.
Porém temos objetivos e fazemos de tudo para conquistá-los…e na maioria das vezes conseguimos!
O que difere é caráter e a grande imposição da sociedade! Infelizmente!
Gostei demais deste texto
beijo
Muito bom!!!!!
Não acho que as diferenças entre profissões, sejam esconlhidas conforme o caráter e sim conforme a oportunidade de cada uma!!!
Mulheres iguais. Pessoas iguais. Simplesmente seres-humanos!!!!
Cada um com seu cada um!
Somos o que a oportunidade nos permite. Mto bom Claudinho.
Hoje em dia está meio inverso… a Mariana é a de família classe média que não é pobre nem rica e paga sua faculdade de medicina fazendo programa, e a Joyce é a trabalhadora que rala o dia todo e passa em uma Estadual pq não tem dinheiro pra bancar uma particular.
Inversão de valores.