(texto de 1 de Março de 2010 – Recolocado pela situação revivida)
Essa sensação de que não estou aqui a passeio deixa tudo mais difícil ao meu redor.
Eu sou o cara que quer arrumar o mundo. Eu sinto que tenho essa responsabilidade. Desde sempre endireito quadros tortos em sala de espera, alinho mesas, sopro poeiras… Desde sempre eu cuidei de meus amigos loucos. Sempre fui o motorista da vez, o careta que ficava sóbrio pra proteje-los, e assim serei eternamente.
Eternamente chato. O chato!
Eu não sei brincar. E por mais belas e tentadoras que sejam as coisas erradas, eu não consigo conviver com elas. Eu as julgo, quero endireitá-las, como um quadro na sala de espera. E então, eu estrago tudo!
Eu sou o chato, o prepotente, pretencioso, dono da razão. É tudo do meu jeito pois eu julgo que meu jeito é o correto. E até os que são iguais a mim, de signo ou de sexo, sucumbem a minha teimosia infinita, pois eu sou o maior chato do Universo!
Mas entendam que sou assim pois tenho minhas responsabilidades. Cabe a mim leva-los de volta pra casa. Tenho que ficar sóbrio, não posso perder o foco nunca. Não posso simplesmente jogar tudo pro alto e curtir, se não as coisas voarão com o vento, e jamais conseguiremos alcança-las.
Eu sou duro, sou seco e frio, mas é só por fora. Isso é minha armadura para me manter ereto, pra me defender dos malfeitores, dos mal-ditos e/ou mal-contados. É um jeito que tenho de me esconder, me proteger, para estar sempre firme e forte para resgatá-los quando cairem. Mesmo que muitas vezes, eu mesmo lhes derrube (as vezes acontece quando tento endireitar).
Eu queria mesmo era dizer um grande foda-se para tudo, pois “eu te acho foda”, e é foda aceitar uma série de coisas que eu precisaria aceitar pra continuar com tudo isso. Como não consigo, eu fecho meu elmo para que ninguém veja quem eu sou e o que eu realmente sinto. É fácil, como ficar pelado no escuro. Me constrange menos, sinto menos frio. Finjo que está tudo bem, que eu não ligo pra nada. Levanto minha espada e vou a luta.
Mas a ausência de quem eu quero proteger me perturba, o silêncio me agonia. Te-los longe de minha vista é como estar preso em uma cela solitária. Então eu fecho os olhos e finjo que não ligo. Espero acalmar, espero voltar e finjo que está tudo bem. Finjo que é tudo do meu jeito, só para você poder fingir que acredita…
E assim vou seguindo nessa fábula, fingindo me divertir como uma criança sem pretensão, como quem ouve um conto de terror, deixando pra lá os medos assombrosos que virão na hora de dormir. Vou seguindo pra ver o que vai dar.
Nessas passagens cruéis, eu vou tentando corrigir os erros, com minha chatice eterna. E alguns quadros que eu não consigo endireitar, eu critico, mas acredite, quando eu fecho as janelas e você não pode ver meu rosto, eu choro com medo, mas sorrio admirado da beleza que esses quadros, mesmo tortos, tem!
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2 Comments
Este texto é a tradução de mim mesmo.
Chorei aqui na frente do pc, por saber que alguém no mundo entende e consegue traduzir o que eu sou!
Obrigado por este belo texto
[…] republiquei um texto que eu havia deletado pois havia ferido uma pessoa que “participava” dele. Eu mudei algumas coisinhas, pra […]