Eu cheguei no sitio de meu pai por volta de umas 14h. Apenas um dos cães estava na corrente. A porta trancada, e lá dentro da casa tocava músicas clássicas, bem calmas, provavelmente de um cd que eu dei pra ele de natal. Não quis incomodá-lo. Sentei em uma porteira, de costas para o melhor visual, e fiquei observando a casa fechada ao som daquela música melancólica. O cão ia e vinha em sua corrente. Eu ia e vinha em meus devaneios.
Aquilo assim, abandonado, me fez pensar no futuro, me remeteu ao passado.
Me lembrei de minha infância, zanzando pra cima e pra baixo naquele gramado, soltando pipa, jogando bola, andando a cavalo. Fui um pouco além, quando aquela casa não existia, quando eu nem sabia que lugar era aquele….
Eu me lembrei de quando construía coisas para cativar as pessoas. Montava teatros de Lego, transformava meu quarto em um observatório astronômico, só para ter minhas irmãs mais velhas lá. Me frustrava quando elas tinham outros interesses. Porém nunca desistia. Talvez pela minha carência e solidão. E também pois me distraia (de minha carência e solidão).
Eu pensei no futuro também: Onde estaria meu pai? Não era normal ele estar fechado dentro de casa àquele horário. Pensei muito no futuro. Qual era o meu papel?
Eu fiquei ali parado por muito tempo, pensando… Quase me projetando. Enfim, ouvi latidos. Um cão subia o morro correndo em minha direção, atrás dele meu pai, sorrindo. Voltei ao presente.
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