O Meu Deus

Eu estava caido, arrasado no chão frio e vazio da sala, chorando como um orfão, desesperado e faminto. Implorei para Ele me ajudar, me tirar dali, me suprir com alguma coisa. Se não pudesse atender ao que eu pedia, que me desse qualquer coisa. Eu fiz perguntas, questionamentos, pedi sinais, pedi provas. Ele não me deu nada. Eu continuei caido, continuei chorando, berei a morte e fui buscar respostas em outros cantos, em pessoas reais, em evidências.

Anjos, santos, entidades, me foram dadas mil fórmulas, mil salmos e orações. Amuletos, oferendas, rituais. Tudo feito, visitado, cumprido, e nenhum sinal, nenhuma resposta.

Então o dia chegou. O dia que a Sereia enfim pararia de me beijar para me deixar morrer no fundo do oceano. Tudo ficou escuro e no momento final, que eu me deixaria morrer, eu lembrei: A resposta está dentro de mim.

Tudo está bagunçado e tem coisas que não vão mudar. Eu posso parar e afundar, morrer afogado sem reagir, olhando a Sereia partir; posso me mexer, correr atrás dela suplicando mais um beijo, até perder o fôlego e morrer da mesma forma. Ou posso olhar para cima, e nadar pra fora dali, buscar minha luz na superfície. Eu lembrei que tenho essa luz.

Algumas respostas nunca nos serão dadas. Não é coisa de Deus, não é nada de ninguém. Não adianta pedir, você não receberá. Você pode ser justo, bom, correto. Não vai ser recompensado. O Universo vai te dar o que é seu, independente do que você faça, do que você peça.

A partir de então, mais do que nunca, eu perdi a fé na oração. Perdi a fé nas oferendas. E se alguma entidade quiser beber em minha casa, que sente na mesa e beba comigo. E não venha pedir copos virgens, pois aqui quem manda sou eu e todos somos iguais. Beberemos no mesmo copo! Expulsei todos os seres, só ficou quem foi convidado.

Matei esse Deus da bíblia que me fez perder tanto tempo orando. Abri a janela para a luz do verdadeiro Deus entrar. A energia da Lua inundou a casa, me fez sorrir, me retomou as forças. Energia, vibração.

Os verdadeiros anjos, corujas e morcegos, voltaram a voar perto de mim, com seus cantos sincronizados, que respondem as minhas perguntas.

E eu subi! Ainda não estou curado, ainda respiro acelerado, com o peito pesado, mas estou na superfície.

Não quero e não preciso mais ter fé em nada que não posso ver. Recuperei a fé em mim, e isso basta. Questão de tempo eu voltar a brilhar de novo, com minha própria luz, sem esperar luz de deuses ou entidades.

Não é ateísmo, pois a luz da Lua representa o mesmo Deus, com a diferença de que é real, não necessita de fé, apenas percepção.

Está tudo certo, está tudo aqui, dentro de mim!