s04 – Semana 37 e 38

Chegamos em Caparaó em Minas Gerais, na casinha que alugamos por uns dias. Uma casinha inacreditável. Totalmente oposto daquela casinha ruim que ficamos em Nova Viçosa (semana 33). O colchão era muito duro, uma taboa. O chão não era melado e estava até limpinho, mas as paredes, cheias de teia de aranha. Não tinha forro e o chuveiro esquentava pouco e havia um sabonete usado no box. E invés de praia na frente, tinha a rodovia. Era inacreditável que alguém pudesse colocar uma casinha tão ruim pra alugar. Até que a gente conheceu esse alguém.

A vista de trás da casa era linda, virada para os morros da Serra do Caparaó que divide Espirito Santo de Minas Gerais. O anfitrião, um senhor simples chamado de Tio Alessandro era filho da Dona Aparecida, uma senhorinha que o ajudou limpar a casinha para disponibilizar para nós. Ele deixou o sabonete dele no box para que usássemos. A marca do sabonete nem tinha sido gasta ainda, era um Francis. Foi na maior boa intensão. Como negativar no AirBnb?

Crime ambiental

Passamos um dia incrível visitando os pontos do Parque do Caparaó, cometendo um crime ambiental ao levar a Samanta nas trilhas. É sabido que não se pode levar animais domésticos em Parques Nacionais, mas o parque estava vazio, então o guarda permitiu que ela entrasse. Garanti que ficaria sempre próximo da gente e não faria necessidades no parque.

Samanta fazendo trilhas, assim como brincando no mar, é inacreditável também. É outra cachorra. Nem parece aquela cachorra que sequer sobe sozinha no carro. Seguimos  nosso caminho dois dias depois até Ouro Preto.

Do outro lado, o responsável pela Brigada Voluntária contra Incêndios de Santa Rita me ligava “já são mais de vinte focos de incêndio nas redondezas do sítio de seu pai. Está pegando fogo em tudo por lá agora”. Fiquei desesperado, me sentindo impotente e culpado por não estar lá este ano. Mas pensei que, mesmo que estivesse lá, ainda seria impotente, como no ano passado, que eu assistia em desespero o fogo consumindo tudo ao redor. Ilusão achar que o beija-flor consegue fazer alguma diferença cuspindo gotinhas de água no incêndio da floresta.

Rebobinando

Depois de conhecer mais Tio Alessandro e Dona Aparecida, decidimos não negativar a hospedagem deles no AirBnb. Seguimos nossa viagem para Ouro Preto, sem planos definidos. Depois de um dia cheio de altos e baixos, subindo e descendo ladeira, paramos em uma suite gostosinha em um espaço interessante de um casal de jovens empreendedores.

A volta ao passado dessas cidades históricas de MG se fundia com o retorno a outra casinha que fiquei ano passado em São João Del Rei, onde passamos uma semana de descanso e estabilidade e então ao retorno definitivo a Santa Rita, casa de minha mãe pra findar mais uma etapa dessa quarta temporada.

Tempo e beija-flores

Foram três meses frenéticos, quase 4500km, passando por mais de 20 destinos diferentes, conhecendo inúmeros pontos turísticos e quase 40 novas pessoas que passam a ter participação direta em nossas vidas, com as mais diferentes vibrações, índoles e receptividade (ou não), como amigos, clientes, indicações ou simples pontos dessa enorme rede.

E então, de volta a Santa Rita, a garrafa da IPA que tomamos nas vésperas de partir continua ali, em cima do tanque, do jeito que deixei. O quintal parece ter sido congelado no tempo e se não fosse pela poeira sobre a mesinha da varanda, eu acreditaria de fato que estivesse congelado. Três meses depois, parece que o tempo não passou aqui. Nenhuma nova flor ou cor além do bege típico das folhas secas amontoadas em grupos feios e desordeiros que vão enfeiando o cenário ora tão belo. Mas enfim a chuva veio, chegou um pouco antes de nós pra deixar um pouco verde o solo queimado pelos incêndios da semana anterior.

A vida começa a brotar e vai se retomando como sempre foi, com os mesmos problemas, os mesmos dilemas e desconfortos. Todos esses incêndios externos que um pequeno beija-flor não tem como apagar sozinho e por isso ele só passa, cospe sua gotinha de água, só pra dar exemplo, mas ciente que o fogo não vai apagar, segue seu caminho.

Ficaremos um mês aqui e buscarei em cada rara flor a energia pra passar esse tempo sem me desgastar. Contando com o apoio de sempre da Sammy, e com o novo apoio e amor de Aline. Será um mês dando minhas pequenas e amorosas cusparadas de exemplo, não com a pretensão de que apagarei o incêndio, mas só por que não tenho nada além disso a fazer…

Agora com vcs: Chuva de fotos!!!!