No quintal da casa de minha mãe, em Santa Rita do Passa Quatro, tem a academia da minha irmã. Lá, tem um motor que aquece a piscina e faz um barulho insuportável durante toda a madrugada. Por isso eu evito dormir lá quando vou pra Santa Rita, por que é quase impossível dormir. Isso é o que eu pensava.
Vivenciar o nomadismo nos coloca em situações que nos muda o pensar. O quarto onde estou dormindo atualmente aqui em Torres, tem janelas para a rua, e do outro lado da rua, bem próximo de minha janela, tem a Unidade de Emergência de um hospital. Mesmo quando a madrugada está tranquila, e nenhuma ambulância chega gritando, existe um motor, do gerador do hospital que liga de meia em meia hora, fazendo um barulho duas vezes pior do que o barulho do quintal de minha mãe. Eu durmo e nem ouço.
Então eu percebo que o problema não é o lugar, o meio, os sons, as pessoas. O problema geralmente está na gente. E é esse problema, dentro de mim, que eu tenho estado bem concentrado pra descobrir qual é. Por que tem algo aqui dentro de mim, um barulho como esse motor da casa da minha mãe, que liga toda hora e me impede de descansar, de dormir, pra seguir em frente no dia seguinte (metaforicamente falando).
É incrível como as histórias se repetem em minha vida. Já desde muito antes de 2012 (quando o face me lembrou desse post acima) fatos acontecem repetidamente, como um padrão, uma rotatória que eu fico rodando e não consigo achar o meio de sair.
Leio textos antigos em meu blog ou nas lembranças do facebook, e parece que foram escritos no presente, no agora. Falam das mesmas coisas, dos mesmos sentimentos, apenas mudando os personagens.
Posso dizer com certeza absoluta porém, que dessa vez, tenho sentimentos em minha pele que eu nunca havia sentido, mas que pra preservar a personagem, por ser tão discreta e contida (assim como todas as outras personagens antigas) eu não posso dizer que sentimentos são. Posso dizer, porém, que diferente de todas as outras vezes, dessa vez me sinto zelado e agraciado, com um carinho inédito, ainda que o desfecho seja igual aos outros… Por que eu não sei como fazer para que o desfecho seja diferente. De novo.
Porém, assim como aprendi a dormir com o barulho, eu tenho conseguido dormir dessa vez. Eu não tenho sofrido como das outras vezes. E isso me dá uma certa preocupação pois eu não sei se durmo por que aprendi a lidar, ou por que tenho ficado surdo aos meus sentimentos.
Perder os sentidos é algo que definitivamente eu não quero. Quero continuar amando, me entregando, me escancarando. Quero continuar com a coragem de dizer que estou apaixonado quando estiver, ou mesmo dizer por cogitar estar. Não como jogo, mas como possibilidade, sem medo de consequências.
Quero sofrer a saudade até o momento do abraço de reencontro. E é isso que venho tentando fazer durante essa semana. Me manter sensível e desperto a tudo o que sinto. Tentando perceber no toque, as entranhas que podem fazer isso tudo reverter ao seu favor. Para que as dívidas sejam pagas e a balança se equilibre (pronto… tava faltando uma metáfora de piada interna nesse texto que no futuro nem eu vou entender quando ler de novo).
Enfim, ontem (sexta) eu tirei folga de meus trabalhos no hostel. Já não tinha tanta coisa pra fazer pois estamos em lockdown (tbm na vida real), e eu fui passear novamente em Bela Torres, um lugarzinho calmo e lindo, que eu quero morar, com uma mulher, dois filhos e dois cachorros
(isso pode ser um blefe, e com isso me despeço por hoje)
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