Meu computador ficou muito lento, os aplicativos travavam mas eu ficava olhando a tela esperando ele fazer seu trabalho….
Enfim por volta das 23 horas eu terminei de gravar o cd com o trabalho de um cliente, e fui leva-lo, mesmo que tardiamente. As ruas úmidas e desertas refletiam as luzes dos postes. Deixei o cd em seu destino e segui meu caminho de volta, por um caminho mais longo, passando por prostitutas e travestis… Procurando um movimento de pessoas além do deserto comum de uma noite de segunda feira fria e chuvosa de inverno…
Como se elas tivessem alguma resposta. Como se elas pudessem me entreter, ou extirpar minhas angústias. Eu passava e elas me chamavam fingindo que sim…
Segui meu caminho ouvindo uma canção triste, pensando na vida e descendo uma longa e interminável avenida vazia. Apoiei minha cabeça em meu braço, encostado no vidro gelado e parei em um semáforo… Me senti observado e avistei ao meu lado uma senhora negra, encolhida, enrolada em seu cachecol colorido esperando um ônibus ou talvez algo a mais, como eu.
Enquanto o semáforo não abria, ela me olhava. Olhava um homem estranho dentro de um belo carro preto, talvez imaginando o porque de meus olhos não brilharem. E eu troquei um olhar com ela, e se ela sorrisse, com certeza tiraria lágrimas de meus olhos….
O semáforo abriu, eu parti deixando aquela senhora para trás. Pensei estranhamente em voltar, oferecer uma carona até sua casa, adiantando o horário do ônibus e reduzindo seu martírio no frio… Não sei por que, mas pensei muito nisso, continuei meu caminho devagar, vacilando em minhas idéias e quase voltei.
Só não voltei pois eu acho que eu a assustaria. Um homem, sem brilhos nos olhos, em um belo carro preto, as 23h30 de uma segunda feira chuvosa oferecendo carona a uma senhora desconhecida, não ia ser confortável. Por melhores que fossem minhas intensões, eu acho que a assustaria, como um anjo me assustaria se aparecesse aqui agora para secar minhas lágrimas….
É… lágrimas… Não sei por que, mas comecei a imaginar aquela senhora sorrindo para mim, enquanto eu, no quentinho de meu carro, voltando para casa, cabisbaixo, me queixo de minha vida. Isso me tirou lágrimas. E talvez com bons ideais e pensamentos meu anjo as enxugue, sem aparecer, da mesma maneira que eu penso e desejo muito calor aquela senhora de uma volta ocasional.
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2 Comments
"A foto ficou muito legal, vc que tirou?"
…… Sim, fui eu quem tirou a foto.. Só não sei muito bem se fui eu que escrevi o texto. Depois de escrever eu re-li bastante tentando entender o que eu queria dizer. Acho que tem muita metáfora ai que nem meu próprio conciente conseguiu perceber.
Os personagens se confundem: quem é o cliente, as prostitutas, a velha, o anjo, eu??? Acho que todos são tudo, ou um recebe o nome do outro… confundo mais!!!
Eu gostei muito do texto. aparentemente transmitiu muita emoção.
mesmo no conflito de sentimentos do momento