Verdades a Lua Crescente

Comece por Verdades a Lua que Míngua

 Depois de ter acreditado que o escuro me absolveria, que aquele ser invisível cederia a todas as minhas lamúrias, ela ressurgiu. Mergulhou dos céus, ou emergiu das trevas. Não pude ver. Apenas sei que abriu suas grandes asas sobre mim e me envolveu: “Eu gosto muito de você. De verdade”.

E agradeço por ter sido iludido. Agradeço por tudo ter sido apenas falso e momentâneo, pois não quero que ninguém saia machucada e penso que não poderia ser fiel a qualquer das outras duas mulheres distintas, se esta que me envolve hoje retornasse anteriormente como retorna agora.

Eu posso fingir que sou eu o ser invisível. Posso ficar imóvel, como uma presa tentando me safar de meu predador que passa farejando bem próximo. Mas eu sei que ela sente meu cheiro, ela sabe quem eu sou e sabe de segredos de minha alma mais do que nenhuma outra pessoa sabe. Mesmo por que, parte de minha alma já esteve com ela. Dentro dela.

Seu corpo camaleão se transforma e se molda aos meus interesses, me seduz como uma isca, me envolve, e me fisga. Eu viro um garoto perto dela. Esqueço tudo o que sei para tentar coisas novas, que nunca tentei com ninguém.

Seu corpo cai sobre mim e eu perco minha visão do mundo. Suas grandes asas se fecham sobre meus olhos e eu esqueço meus valores, esqueço meus objetivos, fico confuso. Esqueço quem eu sou.

Enquanto uma pede cabelos penteados, ela bagunça as minhas madeixas. Pede alegorias, acessórios, brinquedinhos, brincos e colares. Devora como um animal sedento, carnívoro, faminto.

Então em um pequeno momento, com um simples gesto eu consigo ver no fundo de seus olhos, e percebo que existe alma talvez muito maior que a minha por trás de toda aquela fantasia. Ela finge, ela mente, ela foge, só para me proteger. Só para proteger a quem ela ama, a quem ela gosta muito, de verdade!

Pelo seu segredo descoberto, ela voa rapidamente para longe, sem que eu possa acompanha-la. E eu acho que me observa, caido, atordoado, enquanto a lua sorri irônica no céu. Só um filete de luz, pronta para começar uma nova fase.

(Última parte em Verdades a Lua Cheia)