O Meu Deus
27 de setembro de 2013
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12 de dezembro de 2013O Meu Deus
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12 de dezembro de 2013Morto

Sim, pode ter sido só culpa minha. Naquele momento em que eu corri em direção a janela no décimo quinto andar, sem pensar, com um impulso rápido me arremessei, com a simplicidade do gesto de quem pula um muro baixo.

É estranho estar morto.
Mas não fui em quem me matei. E é estranho estar morto para ti, depois de tantas histórias, tantas coisas vividas juntos, aventuras, confissões, cuidados, risadas…
Enquanto eu caia, eu tentava descobrir qual seria o barulho do corpo caindo no chão? Quem seria o primeiro a notar? Quem seria o último a perceber?
Pensava e revia meu trajeto. Você simplesmente matou alguém pois não lhe servia mais. Tentei achar um ponto de erro para a culpa ser minha, pois não conseguia acreditar que alguém tão querido mataria assim sem motivo. Como quem pisa em uma flor.
É mesquinho, de sua bela casa estruturada, ignorar a alma de alguém que lhe significou tanto só por que não significa mais, como um lixo. É cruel, quando essa outra alma é apenas uma flor em seu caminho, que já passou, que não lhe causa nada, que só lhe é bela pela sinceridade do sentimento.
Não era insalubre. Era só perfume, lembrança. Lembrança de outras mortes vividas juntos, e tantas vidas compartilhadas. Ombros e colos. Lembrança de uma amizade serena, intensa, que afagou cada dor, e vibrou com cada momento, cada passo, cada conquista. Se transformou, amadureceu, saiu da carne. Até que deixou partir, com um sorriso nos olhos, pois tinha a certeza de que sentimento tão sublime nada no mundo abalaria.
Uma amizade tão forte e real que eu acreditava ser alto explicável ao mais ciumento e ignorante dos seres. Mas não. Hei me aqui caindo, rumo a morte que já me é vestida.
Indiferente ser suicídio ou assassinato. É bem estranho estar morto.
Importante dizer que mesmo morto, ainda mantenho minha consciência. E queria muito saber como se lembra de mim. Queria saber se lhe sente bem agora, se consegue continuar seu caminho afortunado ignorando totalmente tudo o que lhe foi feito. Se sim, minha morte lhe faz bem e eu prontamente aceito. Embora não concorde, compreendo perfeitamente.
Só queria muito saber como consegue. Queria aprender, pois queria muito conseguir lhe matar também.


