Feliz era aquela mangueira que tinha na casa da minha mãe.
Viviamos sobre ela, brincando felizes. Ela era ornada com uma casinha. Na verdade era só a base. Nunca fizemos as paredes, mas era o bastante. Ela era feliz, pois viviamos ali.
Ela tinha seus momentos de mau humor, como quando retirou um de seus galhos de baixo do meu pé e me fez despencar uns 3 metros, me ralando inteiro. Mas tudo bem, eu entendia seus dias ruins e a amava mesmo assim.
Feliz era aquela mangueira. E eu aqui da sacada de meu apartamento na cidade grande, vejo as árvores da pracinha em frente. Tão esnobes e urbanas, não sabem o que é brincar. Nunca ninguém trepou nelas como eu trepava naquela mangueira.
Não tiveram abraços agarrados, nem dores de pregos fincados em ornamentos, como brincos, piercings, tatuagens. Dor boa! Estão ali só a trabalho, para fingir algum bem estar a todos esses homens que como eu vivem se gabando delas: “Eu moro num bairro bem arborizado”.
Feliz era a mangueira na casa da minha mãe. Era amada de verdade, e eu chorei de verdade quando ela se foi. Talvez essas árvores urbanas vivam muito mais do que ela viveu, mas sua vida, com certeza foi muito mais plena.
Talvez de uma hora para outra elas sejam assassinadas com uma moto-serra impiedosa, ou podem ser defendidas por pessoas que insinuem algum amor, mas não é o mesmo amor que eu tinha por aquela mangueira. Eu sabia quem ela era, conhecia cada galho, cada caminho que ela me proporcionava.
Feliz era a mangueira na casa da minha mãe. Feliz era eu, tão aconchegado em seus braços!
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2 Comments
Aqui na casa do meu vô tem uma mangueira também! =D Já caí várias vezes dela rsrs Nem gosto de lembrar! Agora nem ligo mais pra ela 🙁 Bons tempos aquele!
Mas não estamos falando de mangueiras propriamente ditas…