E pela primeira vez eu entrei em casa depois daquele mês mágico. E logo ao entrar na garagem, o coração apertou ao não ver seu carro e poder deixar o meu em qualquer uma das duas vagas.
Da outra vez foi diferente, eu cheguei sozinho, mas sabia que logo você estaria aqui. Mas hoje não. Você não ia voltar. Não tão já…
Quando entrei em casa, o perfume que você deixou ainda estava no ar, mas tudo diferente, tudo tão frio. Eu queria poder deitar nesse travesseiro que tem seu cheiro e dormir por 60 dias. Talvez eu colocasse ele do meu lado da cama, e dormiria no cantinho, pra correr o risco de acordar e você estar dormindo ao meu lado.
Era tão bom acordar junto a ti, pedindo mais “dez minutinhos”. Ou quando eu me mexia na cama e sentia você me cobrindo novamente, talvez em ato involuntário de seu sono pesado. Carinho involuntário, de sua personalidade de cuidados que me conquistou.
Está sendo muito foda. Talvez com o passar dos dias eu volte a me acostumar com minha vida solitária. Ou talvez ficará cada dia pior, com a saudade aumentando e aumentando, invadindo todos os pontos irrigados de meu corpo.
Minha geladeira voltará a ser um sarcófago de comidas velhas congeladas e cervejas fortes. Sem frutas, sucos ou cereais. Minha cama permanecerá desarrumada, como eu a deixar. O sofá, meio aberto, pois não terá ninguém para assistir Californication comigo. Nem eu vou assistir, pois será como assisti-lo nos momentos em que você cochilava e perdia partes importantes.
Vou abrir minha agenda e preencher cada minuto desses dois meses, para que me distraia, para que não pense em você, embora isso seja impossível. Mas para que com tanta atividade, esse tempo passe voando, como você me prometeu que passaria.
Como eu lhe disse, a muito tempo deixei de ser um homem romântico. Quem é você pra trazer isso de volta, pequena sereia? Quem é você, bela borboleta, pra vir aqui colorir minha casa, me lembrar de minha essência e partir assim, deixando lembranças e perfumes no ar?
Não seja imprudente, Pedrinha. Volte logo para sua casa. Para esta casa. Volte logo a pousar sua cabeça em meu peito, pois não vivo mais sem as cócegas de seus cabelos em meu nariz.
Volta logo, Ka!
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