conto de fadas

Ele tinha fama de ser o cara mais mulherengo da cidade. Ela sabia disso, mas estava carente. O jeito que ele falava com ela, seu olhar profundo e misterioso a deixava excitada, e, qual o problema? Era só sexo!

Por volta das 20h, ele foi busca-la. O carro dele era um bom carro, mas todo sujo e destruído. Demonstrava um certo desapego as coisas. Quando ela entrou em sua casa, teve vontade de voltar atrás. A casa era limpa, mas bem bagunçada, talvez uma típica casa de homem solteiro. Ele a conduziu para o sofá da sala, optaram por beber cerveja dentre várias opções e o papo fluiu de maneira surpreendentemente agradável. Poderiam ficar ali por horas, mas o corpo dela já se inclinava conotando o interesse profundo em se aproximar. Se beijaram!

Após alguns abraços calorosos, olhares trocados de maneira intensa, foram para o quarto. Uma luz azulada iluminava o ambiente um pouco menos bagunçado do que o resto da casa. Em cima da cama havia uma frase enorme escrita na parede sobre um relacionamento anterior. Ela travou o corpo por um momento olhando aquela frase. Ele a abraçou por trás, beijou sua nuca e a empurrou sutilmente com o corpo para ela se deitar. Todos os problemas e medos sumiam naquele momento.

Ele tinha fama de ser o cara mais mulherengo da cidade, sua página na internet era totalmente dedicada a sua ex namorada, assim como a frase enorme sobre sua cama. Seu trabalho causava desejo e ciumes. Tinha tudo pra ser detestável. Teimoso, egocêntrico, dissimulado. Mas ela estava completamente fisgada por ele. No fundo de todos aqueles percalços, ele era doce. Conversava de qualquer assunto como ninguém, era carinhoso, compreensivo. Quando ela falava, ele olhava nos olhos dela como se o mundo ao redor não existisse. O que era pra ser só sexo, virou uma grande armadilha.

Os sentimentos começaram a ficar mais intensos. Ficou difícil para ela aceitar o blog da ex-namorada, aquele adesivo sobre a cama dele, as ligações em silêncio, visitas inesperadas. O ciume a corroia por dentro como acido em suas veias e a cada vez que ela o ligava e ele não atendia, era como se o chão sumisse de seus pés, sua cabeça pensava mil e uma besteiras e só encontrava a paz novamente quando ele reaparecia e a abraçava contando suas histórias fingidas. Ela sabia que era tudo mentira, mas tentava não se importar. Só queria estar ali, envolvida, abraçada.

Até que um dia ele resolveu sumir além do normal. Foi atras de sua ex, por pura ambição de querer ter todos ao seu alcance. Por melhor que estava seu relacionamento atual, ele nunca se satisfazia. Parecia ter um medo eterno de ficar sozinho, então queria criar pontos de fuga. Usava as pessoas como refis de algum produto. Queria ter sempre um a mão para quando o outro faltasse. O mundo dele era todo falso. E ela não aguentou.

Com um gesto rápido, palavras ríspidas, ela acabou com tudo, sem dar tempo de resposta, tentando não lembrar de cada carinho, cada gesto. Não queria lembrar de noites de sexo perfeito, quando faziam amor na sacada, à luz do luar, banhados por vinhos frisantes. Foi tão rápida em sua atitude para não ter tempo de lembrar. Se livrou logo cedo de todas as evidências que tinha dele. Mas depois lembrou. E ele lembrou!

E ele não sabia o que fazer. Ficou perdido, como em um deserto. Não sabia o que dizer, como agir. Ficou parado no meio da sala, olhando o porta retratos com fotos deles sobre a mesa. Ele pensou em todos os outros sexos de sua vida, tentando buscar algum melhor para se recordar, pensou em sua ex, pensou em sua faxineira. Só queria lembrar de alguém que cuidasse dele, pobre rapaz.

Em uma noite de chuva, ela abriu a porta e ele estava lá, todo molhado com seu olhar apagado, não mais sedutor. Ela deu um sorriso escondido e ele considerou como um sinal. A abraçou forte, molhando sua roupa. Se beijaram e transaram mais uma vez. Sobre ela, ele se movimentava lentamente, sem pretensão de orgasmos. A olhava com as sobrancelhas baixas, apaixonado… e uma lágrima caiu sobre os olhos dela.

Era tudo um sonho. Eles jamais se veriam novamente. Tudo o que estavam cultivando, carinhos, amores, gozos, tudo jogado pelos ares, misturado a todas as outras dissimulações de suas vidas. Sentimentos reais e falsos, todos embaralhados. E a vida vazia continuaria vazia, com prazeres falsos até o dia de suas mortes…