Como eu já disse uma vez, no início de minha jornada, com total convicção e certeza: “a depressão é a sede da alma, e a negação da intuição”.
E lá estava eu, confortável, bem hospedado com cama macia e wifi. Em confinamento de quarentena com três indivíduos distintos e providenciais. Mas não. Nem um pouco confortável.
Um deles, era pra eu ter conhecido a 2 anos atrás, lá naquele templo Hare Krishna que eu não aguentei ficar. Sai 5 dias antes do previsto e não dei o tempo que o Universo precisava para nos apresentar. Ele chegou dois dias depois que eu parti.
Sábio Universo, mexeu todas as pontas da malha para criar esse reencontro, ainda que tardio, ou ingenuidade minha crer nisso. Universo sábio preferiu que fosse agora.
E é com esse individuo argentino que me sento no escuro do quintal. Samanta não quer ir para o quarto, se deita atrás de nossas cadeiras, enquanto as ruidosas pessoas já foram dormir. Olhando as estrelas, que vão e vem sobre as fumaças de nossos tabacos, a prosa flui embaranhada pelos idiomas mesclados. Mas a gente se entende no portunhol.
Eu entendo suas fés, ele entende as minhas. Nos respeitamos e nos somamos em abraços virtuais espirituais que aliviam momentaneamente a angústia de estar aqui.
Só vejo a luz de meu quarto, ao fundo, no meio do breu total, como se fosse um único caminho. As estrelas ou a cama. Sinto meu corpo pesado, minha mente confusa, meu peito apertado e dolorido por não conseguir decidir.
Tudo dentro de mim me pede movimento, me pede pra sair. Mas o medo vem forte, alimentado pela mídia ainda que filtrada, real e sensata que relata a pandemia que assola o mundo.
Parece loucura deixar o conforto físico presenteado a mim. A suite azul, com cama macia e água quente é refúgio mas é prisão. Do lado de fora estranhas vibrações sondam em formas de palavras altas insolúveis, insensatas, que não se permitem me escutar. E eu não falarei mais alto.
Minha sanidade quase finda, mas ainda existe para me convencer a manter meu tom de voz. Mas a minha frequência vibratória se altera sem querer, em movimento instintivo de sobrevivência, pra tentar sintonizar com o lugar. Pra se fazer aceito, pra se confortar do lado de fora, além da cama do quarto azul.
Heis o décimo dia. Nenhum colchão macio é suficiente. Minha intuição grita me deixando mal, deprimido, com sintomas que eu conheço bem: “Se mate! Não tem mais nada que fazer aqui“. A sanidade quase finda sabe não levar essa frase ao sentido literal.
“Se mate aqui, há mais vida lá fora! Saia já, há mais coisas pra se fazer além desse confinamento. Já não lhe ouvem mais, já não lhe tens poder pra mudar nada ai. A intensão foi plantada como em todos os lugares que passou. E agora só o tempo fará germinar” (ou não).
Saia sem medo pois o Universo lhe proverá o que lhe é necessário para cumprir seu objetivo.
Todas as questões sociais e racionais me voltam a cabeça. Em estado depressivo, me ponho a pensar se não serei eu um fraco, fugindo novamente. Incapaz de lidar com as diferenças, montado em minha prepotência que me faz crer que sou melhor do que realmente sou.
Em estado depressivo, nem tenho vontade de editar o episódio 4. Minha mente grita ‘ninguém assiste aquela merda’. Escrevo pois é mais fácil. Alguém lê? Não me importo…
Fuga ou Busca? Foda-se… É o que me faz sentir melhor. Mais vivo, ainda que mais perto da morte.
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