Eu, a fraude!

Não fique chocada, você já deveria saber. Eu sou uma fraude. Eu não sou o que eu pareço ser, ou quem eu pareço ser.

Se você não é uma das minhas 3 irmãs, ou tem menos de 40 anos, esquece esse eu que você imagina conhecer. É tudo mentira. Eu não sou seu amigo, nem seu psicólogo. Eu não sou anjinho, não sou fofo, nem sou confiável. Sou apenas paciente.

Tenho paciência de ficar em silêncio observando você, minha presa. Na espreita, te deixando falar e falar, só olhando, esperando o momento de atacar como um felino astuto.

Quando eu abro a porta do carro, ou te alimento, não é cavalheirismo, é tudo plano. Cada som que lhe apresento, cada música que toca em minha toca, não é simples conhecimento e bom gosto musical, é estratégia, hipnose. É tudo busca de meios para que você esteja por perto e que relaxe.

Quando te deixo passar a minha frente, eu olho para sua bunda. Quanto você se debruça, olho para seu decote. Se passa mais perto de mim, eu aspiro seu perfume. Não confie em meus gestos suaves, não se entregue aos meus abraços apertados, a não ser que queira se aventurar por territórios novos, de onde talvez não queira ou não saiba como retornar.

Eu sou uma fraude. Sou mal intensionado, não sou seu amigo. Se eu falo de sexo com desenvoltura, não é dica, é exibicionismo. Se eu opino sobre seus casos é favorecimento providencial. Eu deixo você me usar, como se fosse seu amigo, mas a intensão final é colorir.

É tudo estratégia. Tudo meios para que você esteja por perto e em uma bobeira, um descuido, cruze seu olhar com o meu. Dai já era. Se olhar no meu olho, eu fisgo, hipnotizo, enfeitiço, roubo sua alma e você verá cores novas. Não confie em mim, eu sou uma fraude, não sou fofo, nem quero te ajudar, só quero te comer!