Eu queria escrever algo especial, desses textos que a gente lê no futuro e exclama “uau, eu escrevi isso”. Então pensei bastante e lembrei de meu nariz.
Meu nariz é torto. Mas só dá pra perceber olhando de baixo pra cima. Quem descobriu foi uma pessoa ai, que fazia questão de me dizer isso, mencionando o quanto seu próprio nariz era perfeito. Tão perfeito que foi um médico que disse a ela. Ele disse que o nariz dela era o mais perfeito de toda sua carreira acadêmica. Otorrino, vislumbrado com o nariz perfeito de sua paciente.
Eu deixava ela ser feliz com essa constatação. Assim como a deixava acreditar que o buraco no fundo da garrafa de vinho era usado por determinados tipos de vinho. Não fazia diferença pra mim contraria-la, e explicar que o buraco no fundo da garrafa de vinho, nada tinha a ver com o seu conteúdo.
Assim como seu nariz perfeito.
Uma vez essa pessoa me disse que eu só seria amado por um cachorro, pois não era digno de amor nenhum. Por um momento eu cheguei a acreditar nisso e me coloquei a chorar. Mas quando fui enxugar minhas lágrimas, me olhando no espelho, de baixo pra cima, vendo o meu nariz torto, eu percebi.
Não sou eu quem sou indigno de amor, é apenas ela que não sabe o que é amar.
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