Quando se vai…

Outro dia eu perguntei a mim mesmo se meus desejos continuariam os mesmos se eu tivesse a certeza de que morrerei em poucos meses.

A partir desta pergunta e desse pensamento, eu modifiquei todos os meus desejos e quando me vejo lutando para conquistar algum deles, eu respiro e relaxo. Deixo ir. E o mesmo acontece com os meus medos.

Sábado eu estive com  pessoas que amo e temo perder. Então, sentado no paralama de um trator, guiado pelo meu pai, passeando por aquela paisagem bucólica construida pedra a pedra por ele, ouvindo suas histórias e planos, eu pensei no dia em que não o terei mais para guiar aquele trator. Um frio me subiu na espinha, pois é um medo que eu tenho de verdade, talvez o único.

Aquele medo, por um segundo, me impediu de viver aquele momento. Então eu tratei de tira-lo de minha cabeça e viver intensamente cada um daqueles segundos. Prestar mais atenção em cada luz, cada cheiro, cada palavra que aquele velho sábio dizia.

Quando se vai, se vai. Então devemos curtir ao máximo quando se tem. E não falo só de pessoas que amamos. Falo de momentos, e até mesmo de dores.

Eu sou um cara muito correto, desses que, quando encontrar a mulher da minha vida, serei companheiro e fiel a ela até a morte. Então, quando essa mulher aparecer, toda vida que eu tenho hoje morrerá. Com certeza eu nem sinta falta, mas talvez um dia ou outro, uma pequena saudade eu terei, de minhas noites sozinho de filmes e videogame com whisk e charuto. Ou ainda de minhas farras descompromissadas com mulheres que mal conheço.

Então por um momento, eu tento deixar de lado meu desejo intenso de achar essa mulher, que me dará o meu filho, pois isso pode ser tão ruim quanto pensar na morte de meus pais. Focar uma coisa, seja um desejo ou um medo, é deixar de viver o momento presente.

Quando se vai, ou quando chegar, não haverá mais nada a fazer. Então o melhor a fazer é parar de tentar entender como as engranagens se encaixam, e prestar mais atenção à paisagem da viagem.