Enfim eu encontrei alguém que reflete a mim. Igual a mim, mas ao contrário. E foi interessante pois consegui reler meus atos e entender o que eles muitas vezes causaram.
Achar que sou o dono da verdade, o grande Deus do planeta, e que posso com o poder de minhas palavras manipular meus protegidos é uma grande pretensão. Eu não posso fazer isso, e invariavelmente não faço mesmo. Muito pelo contrário. Sou amado e odiado justamente por escancarar as janelas, deixar a luz entrar mas não jogar ninguem por elas.
Meu reflexo também tem o discurso do “me ame ou me odeie”, mas ao contrário de mim, ele não sabe lidar com o ódio. Se alguém o odeia, ele baseado em seu signo astrológico, quer a todo custo ser entendido e venerado como ser supremo da verdade. Eu já passei dessa fase, escrevo aqui para os outros, sem me importar se amam ou odeiam. Quero apenas aparecer, incomodar, pelo bem ou pelo mal, te fazer dormir minutos mais tarde por pensar um pouco nas coisas que eu digo.
Eu aprendi a ser odiado. Aprendi a esperar para ver o resultado de minhas palavras e avaliar se elas foram corretas ou não. Geralmente elas são por si só, e não por provocarem a situação a qual cantam. É como avisar alguém para prestar atenção ao atravessar a rua, e ao chama-lo para avisar, o-distrai e o mesmo morre atropelado. Minha culpa, por querer avisa-lo. O meu reflexo ainda não entendeu isso. Não sabe que muitas vezes nossos alardes são os causadores de nossas preocupações. Se um bebê dorme, você não pode gritar pedindo silêncio aos outros, e é isso!
Mas eu não escrevo hoje para me mostrar melhor ou pior do que meu reflexo, pois eu não tenho como avaliar isso. Só escrevo para dizer que vi em meu reflexo o que eu causo com meus textos e minhas artes e com isso eu me torno um anjo com asas ainda maiores. Minhas palavras ainda mais poderosas.
Eu já sei que milagres assustam e que eu não devo fazê-los. Já sei que só devo indicar o caminho mas jamais empurrar as pessoas. Já sei que o Universo é providencial e qualquer ato meu pode mudar o rumo das coisas e atrasar as providências (que serão sempre as mesmas). Meu reflexo ainda não sabe. Alias, meu reflexo ainda não sabe que tão de perto não dá pra ver as pessoas direito! Que é necessário afastar alguns metros, olhar nos olhos e esperar. Ainda não sabe que um abraço vale mais do que um beijo na boca, ou que mesmo vários beijos na boca não valem nada perto de uma boa conversa.
Meu reflexo não sabe de nada, mas paradoxalmente me ensina muito. Me ensina ser mais contido em minhas explicitações. Ser mais calmo, ter mais paciência, e me faz lembrar o por que de eu estar aqui! Eu tenho o poder das palavras e devo usa-lo com cautela, e meu reflexo me ensina que os efeitos nem sempre são imediatos.
As palavras certas só funcionam depois que decantam, e isso as vezes leva tempo. E meu reflexo há de aprender isso, mesmo por que, acabo de quebrar o espelho!
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