Astolfo estava perdido, andando por ruas escuras quando avistou Olivia e Zilda em suas janelas, futricando sobre a vida alheia como lhes era comum.
Desamparado e sem muito mais o que fazer, aceitou o convite e entrou para tomar um café com as duas senhoras gordas. A noite estava fria e chuvosa. Astolfo colocou sua capa sobre o encosto do sofá e começou a ser bombardeado por sentenças e julgamentos mal proferidos. Porém, Astolfo não era assim, uma pessoa tão frágil quanto parecia, e essas senhoras deveriam escolher melhor quem colocam dentro de suas casas.
Cansado da humilhação pela qual elas o faziam passar, Astolfo em um movimento rápido se levantou, puxou sua espada da bainha e em um único lance decapitou as duas senhoras. Era a primeira vez que Astolfo matava alguém, e logo duas de uma vez só.
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ele estava certo de que era melhor assim. A vida dessas duas senhoras já era monôtona demais, e Astolfo acreditava que havia feito um favor para ambas. Limpou o sangue de sua espada no vestido estampado de Olívia, colocou-a de volta em sua cintura, vestiu sua capa e seu chapéu e saiu na chuva.
Embora seus problemas parecessem resolvidos, as palavras das duas senhoras mastigavam sua cabeça e seu orgulho de maneira dolorida. Astolfo então se dirigiu a casa de Arlinda. Com os punhos fortes, bateu em sua porta, mas ela não abriu. Ouviu-se sua vóz chorosa, gritando para ser deixada em paz, sem sequer saber quem batia. Astolfo retomou sua ira, já como quem não tem nada a perder, chutou a pesada porta de madeira e entrou na casa escura de Arlinda. A encontrou encolhida em sua cama, como quem tem dores estomacais, ela começou a vomitar palavras sem sentido, provavelmente contaminada pelas duas velhas que já não existiam mais.
Sem ter como se defender, querendo partir mas deixando as coisas arrumadas, Astolfo tentava falar, mas Arlinda não deixava. E novamente por ser julgado, culpado e massacrado como um cão sarnento, Astolfo se perdeu…. Retirou novamente sua espada, esticou na frente de seu corpo, em direção ao corpo de Arlinda e pode ver os olhos dela mudarem de expressão. Ela suplicou “desculpas”, mas já era tarde. Astolfo deixou seu corpo cair sobre o dela, enfincando a espada no meio de seus seios. Arlinda ainda teve chance de dizer de novo “me desculpa”.
Seu chapéu rolou pelo chão, e ele nem fez questão de pega-lo. Saiu andando sereno, com a frieza de um matador, ele e sua sombra, pelas ruas escuras da cidade. Astolfo some no horizonte, crendo que sua ausência faça com que Josefa o esqueça e talvez de chances de José conquista-la, já que não haverá mais ninguém para impedi-los. Sebastião talvez um dia volte, mas encontrará Arlinda morta e nunca mais poderá ter a antiga Arlinda que se propoz a matar por ele, e morreu por sua indecisão. E assim acaba uma novela..
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