Sai na sexta feira de Torres. Tive que gastar uma graninha extra com um sedex de documentos pra Ribeirão Preto, para que chegassem antes de mim. Dai o dinheiro ficou bem justinho, mas eu nem ligo pra dinheiro mesmo…
Fui pra Blumenau e tive vários insights durante a viagem. Me deu vontade de editar novos vídeos para uma quarta temporada. Despejei tudo na cabecinha de Bruna, minha anfitriã por lá. Temos histórias cruzadas, amores mal resolvidos, mal conversados, demolidos, desconstruídos.
Levantei uma hipótese sobre por que criamos padrões e ferramos com nossos relacionamentos. Eu levantei algumas teorias e fiquei o tempo todo refletindo que tipo de frutinhas ou sementes eu precisaria ter em minhas mãos praquele passarinho pousar aqui de novo pra eu tentar fazer tudo diferente.
É decepcionante essa descoberta de que o amor não é o bastante…
O amor é um sentimento tão forte quanto a água. Cura tudo, mas é frágil e volátil sobre qualquer outro sentimento.
Medo, ganância, egoísmo, são tão ínfimos e pequenos, mas são como pequenas pedras e areia. Suficiente pra bloquear ou desviar o amor para sumir no mar, evaporar em uma cascata ou fluir pra longe, como um rio, a perder de vista.
De qualquer forma, foi muito bom passar o final de semana com a Bruna. Revisitar pontos de Blumenau, conhecer Pomerode e a família dela, e o fim de semana passou rápido, pautado em assuntos de amor e redescobertas.
No domingo, acordei na hora que quiz, tomei café e partimos, por volta das 10h30, sem destino, sem lugar pra parar nem meias paradas. No GPS joguei de cara Santa Rita do Passa Quatro, 800km de distância, 8 horas de viagem. Até por que, eu não teria dinheiro pra pagar alguma hospedagem.
Se aparecesse algum lugar pra eu pousar, ótimo. Se não, iria mesmo direito. Inclusive, segurando o pé. Segurando a velocidade pro carro ganhar autonomia e eu gastar menos com combustível. Foi um ótimo exercício pra controlar a ansiedade e o orgulho.
Se houvessem vídeos da quarta temporada, eles seriam todos sobre relacionamentos humanos. Sobre meus relacionamentos humanos e como eu lido com cada um deles.
Durante toda a viagem, que durou 12 horas (por causa de paradas pra descansar e por conta de dois acidentes graves na BR), eu acessei vários relacionamentos. Falei muito com meu melhor amigo, com algumas pessoas que não falava a algum tempo, e fui me sentindo acompanhado, querido e sobretudo cuidado, com mimos que Bruna colocou num pote plástico e com os cantos constantes e agradáveis de um passarinho voando sobre mim.
Quanto mais ao norte eu ia, mais distante eu sentia a possibilidade de voltar. Sentimento estranho que foi aumentando a cada quilômetro. E eu olhava a Samanta deitadinha exausta no banco de trás e pensava que deveria parar. Não parar aquela viagem em si, mas parar essa viagem toda. Parar de fazer isso. Parar num canto, sossegar.
A venda desse terreno, enfim se concretizando e me libertando de vez pra fazer o que eu quisesse me dava um poder e aumentava minhas dúvidas. Era como se abrissem minha jaula definitivamente, e eu não quisesse sair.
Foram doze horas de reflexões insólitas, protegidas e bloqueadas por aquele passarinho, voando sobre mim e cantando sua lida canção da não-esperança.
Cheguei em Santa Rita por volta das 23h. Minha mãe me esperava acordada.
A minha energia se esvaíra rapidamente quando estou em solo natal. As coisas daqui me incomodam de maneira estranha. E passado dois dias eu já estava bem cansado de estar aqui, irritado sobretudo quando percebi que minha sobrinha mexera em minhas coisas. As poucas coisas que ainda me sobram, que estão guardadas num armário aqui na casa de minha mãe. Tudo bagunçado. Livros amaçados e perdidos, minha primeira câmera fotográfica, relíquia, com a tampa da lente perdida, nada estava como eu deixei.
Eu respirei muito sobre isso. Precisava deixar isso ir como todo o resto. O que importava uma câmera velha e livros já lidos? Nem levava isso comigo. Mas estava difícil.
Solo, além do título que dou, também é uma condição minha por aqui. Mesmo acompanhado de minha mãe e de minha sobrinha, me sinto bem sozinho quando estou aqui, e isso também me desgasta, e me faz sentir ‘saudades insalubres’ mais do que o normal, o que me fazia procurar pelo pássaro, e me estender em conversas longas pela madrugada.
Além de tudo isso, alguns acontecimentos e mudanças das coisas lá em Torres, me fazia perder ainda mais a esperança de voltar pra lá, e isso significava estar ainda mais longe de tudo o que eu almejava. Eu queria dizer isso. Queria estender as mãos com frutinhas, numa nova proposta, num novo convite, com novos roteiros juntos. Mas não podia. Eu não podia insistir em tudo o que já tinha dito, pois poderia assusta-la ou incomoda-la novamente e fazer com que voasse pra mais longe ainda. Mesmo por que, a sua rota já estava bem definida.
Então ela entrava no silêncio da reflexão… Me dava as costas sem dizer boa noite, mas vinha para o meu lado, se aninhando, se encostando e se encaixando bem em mim. Eu puxava seus cabelos pra cima, pra poder respirar, lhe cheirava, lhe beijava a nuca e ficava esperando, um esperar sem fim por uma frase solta que quebrasse os pensamento confusos antes de adormecermos.
Adormecemos!
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