Em meados de setembro, as convulsões da Aretha se tornaram insustentáveis. Em uma delas, ela bateu o fucinho na parede e quebrou os dentes. Em outra, não sabemos como, machucou muito sua patinha. Enfim, preferiram sacrifica-la. Eu estive com ela uns dias antes. Eu não podia fazer nada pois ela não era minha, mas pude ao menos me despedir. Pude olhar para aqueles olhinhos e dizer que estava tudo bem, que ela havia sido uma boa menina. O jeitinho que ela me olhava de volta, parecia saber que era uma despedida.
É engraçado como algumas “coisas” podem ser simplesmente eliminadas quando estão dando trabalho demais ou apenas não interessam. E é muito engraçado como a minha sobrinha lida com a morte.
Tão pequena, próxima de fazer 4 anos, ela já vivenciou várias vezes o sentimento de perda, e lida muito bem com isso, ou aparentemente lida. Ela simplesmente não menciona mais o nome de quem perde. Como se caísse totalmente no esquecimento. Adepta radical do “deixa ir que o tempo faz esquecer”.
Ela nunca mais citou o nome da Aretha, nem quando perguntada. Simplesmente desconversa. O mesmo ocorre com minha ex namorada. Ou ao menos ocorria…
Hoje, brincando com os joguinhos de meu celular, do nada parou e disse “tio Ca, me mostra uma foto da ‘Karime’!?”… Exatamente assim, sem o usual “tia”. Eu me assustei, não entendi. Precisei que repetisse para confirmar se ouvi direito. Então ela repetiu, dai sim, com o “TIA Karime”.
Quando eu disse que não tinha nenhuma foto sua no celular, ela indagou “nem no computador?”. Dai procurei no facebook. Tem uma foto nossa ainda lá, de nós três juntos. Ela olhou, e sorriu… Apenas isso.
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