“Oi, bom dia… Eu estou bem, e você?……”
Não, mentira, eu não estou bem, mas não sei exatamente o que está acontecendo. Nem ia ter texto essa semana, e esse texto na verdade ia ser um audio que eu não mandei. por que nós estamos meio dessincronizados no momento. Você está numa vibe muito high e eu tão baixo… Não consigo enxergar pra te alcançar e confesso que dá até um pouco de raiva. O mês está terminando e as coisas não estão acontecendo. Sem rota, sem troca de carro ou qualquer outra troca. Ao menos não estavam acontecendo até agora…
Acordei com uma mensagem de um amigo que não falava a tempos. Pedindo informações, ajudas e tudo mais que as pessoas que não se fala a tempos costuma pedir. Além disso, tinha uma resposta sobre um voluntariado que eu tinha aplicado a algumas semanas lá em Goias, mas pra minha surpresa, não era em Goias.
Por algum motivo, está difícil ir pra Goias, faz dois anos que eu tento colocar isso em minha rota, mas dessa vez, eu queria mais ainda, por razões maiores que antes, por que há uma estrela em minhas mãos e eu preciso devolver. Então eu estava procurando um jeito, mandei mensagens para vários hostels e pousadas que me apareceram, mas para minha surpresa, havia uma pousada ali no meio que não era lá. Ela estava aparecendo errado nas buscas, e foi exatamente essa que me respondeu.
Uma resposta cheia de entusiasmo, vibrando com minhas aventuras e me fazendo sorrir com mensagens cheias de senso de humor logo ao acordar. Ignorei por um tempo aquele amigo sumido e uma outra mensagem que acabava de chegar, sobre meu carro.
Sim, tudo junto, em menos de 30 minutos. Um novo lugar pra ir, uma possibilidade de troca de carro e pedidos de um amigo distante. Tudo diferente, tudo em sentidos opostos do que eu planejava e era pra eu ficar feliz, mas não fiquei.
Não fiquei, por que eu já errei tanto agindo sozinho e estou com medo dessa vez. Eu nunca tive alguém que me falasse ‘não pula’, ‘não faça isso’. E eu sei que o medo e a opinião alheia são antagônicos à intuição, mas eu queria tanto ouvir alguém me dizer ‘vai lá, manda ver! Pela logo esse carro que te apareceu. Cancela Goias, vá pra Iguape. Deixa acontecer’, ou melhor, preferia ouvir alguém me dizer o oposto de tudo isso, ‘vai pra Goias dar esse abraço que seu coração tanto grita’…
Enfim, eu ia te mandar esse audio contando tudo isso pra que talvez você me dissesse uma coisa ou outra. Pra que você tranquilizasse minha alma. Na verdade, eu queria mesmo é escrever uma poesia pra te chamar pra Iguape, pra que cancelasse vôos, e pousasse por aqui. Mas eu nem sei ao certo o que estou sentindo pra transformar em poesia…
Que merda, né!? Pra que serve o medo além de fazer as oportunidades passarem?
“mas hoje não vai dar. Estou na correria aqui. Só parei pra dar uma olhada e tô aqui… quase contando minha vida após ver só um pedacinho do seu vídeo em sua página. Amanhã nos falamos, pode ser?”, dizia as mensagens cheias de entusiasmos de uma possível anfitriã em Iguape.
Pode sim… Aqui também está assim: Nem ia ter texto essa semana, e já estou chegando em 500 palavras.
É por que eu não estou bem. Eu só queria alguém que pegasse na minha mão e atravessasse a rua comigo, pra onde quer que fosse. Eu ainda preciso te entregar essa estrelinha.
It’s strange what desire would make foolish people do
(Chris Isaak)
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Então segue uma poesia (não minha)
“Quando a gente ama, a gente blefa
Mas, na verdade, cê tá fudido numa mesa de poker
Prestes a fazer a aposta errada
Ela me ofereceu um cigarro e eu fumei por educação
Eu quase disse: Querida, eu te amo
Mas só olhei pro quadro do Monet
E fiz um comentário óbvio pra ganhar tempo
Você me lembra Sônia
Rainha Amazona, filha de Deus e de Maria
Moleca descalça correndo pela avenida sozinha
Sem rumo, sem medo da vida
Foi aí que eu conheci o mundo atrás da esquina
E que o amor, quanto mais bate, mais te ensina
Vou ser poeta e consertar meu coração em cada oficina
Mas não me leia como se fosse um poema
Não me trate assim
Sônia, o que que houve com seus sonhos?
Ao que temes mais que a solidão?
Terás um filho e toda perspicácia do signo de escorpião
Mas não me leia como se fosse um poema
Não me trate assim”
(Agnes Nunes / Xamã)