Era uma vez uma aldeia onde todos os humanos, por alguma anomalia genética tinha suas peles cobertas por gasolina. Alguns mais, outros menos, mas todos eles exalavam o cheiro forte do combustível, e não podiam ter contato com fogo, se não queimavam. Os que tinham mais gasolina em seus corpos podiam queimar até a morte, os outros, com menos combustível, queimavam mas não chegavam a morrer. O problema, é que esses podiam propagar o fogo de seus corpos para os mais inflamáveis e lhes causar a morte.
Por esse motivo, o fogo era proibido nessa aldeia. Comida apenas crua, não se usava microondas pois evitavam a eletricidade. Não havia luz elétrica e as noites eram tranquilas, no breu total. Até que um belo dia, essa aldeia foi invadida por vaga-lumes flamejantes. Os nativos se encantaram com aquela luz dourada cruzando os céus, mas o encantamento se tornou desespero no momento que um vaga-lume tocou a pele do padre da aldeia, que imediatamente começou a queimar e queimou até a morte, depois de espalhar sua chama para mais duas pessoas que tentaram sem sucesso lhe salvar.
Os vaga-lumes voavam inclusive de dia, e muitas vezes a chama no corpo da pessoa tocada não podia ser vista e acabava queimando outras pessoas próximas. O terror se instaurou na comunidade.
O chefe da aldeia então decretou que todos os nativos deveriam se trancar em suas casas e não sair por nada, até que o enxame de vaga-lumes fosse embora da aldeia. Porém os vaga-lumes não iam embora e as pessoas começaram a ficar preocupadas e impacientes, descumprindo a lei do chefe. Para alguns que precisavam urgentemente sair, e outros pouco obedientes, foi criado um tecido que segurava o fogo no próprio corpo, evitando que as chamas dos teimosos que saiam de suas casas atingissem outra pessoa próxima.
A comunidade foi aos poucos aprendendo a conviver com aquele terror, manter distância uns dos outros, enquanto cientistas trabalhavam incessantemente em um inseticida ou qualquer outra alternativa pra exterminar os vaga-lumes flamejantes, e então uma solução surgiu.
Os vala-lumes não morreriam, mas uma poção quase mágica foi criada para os humanos. Ela provocava a produção de um outro fluido inflamável no corpo, que incinerava e diminuía a gasolina original dos corpos, fazendo com que estes ficassem menos inflamáveis no geral. Não se sabia exatamente o que essa poção causava no organismo, mas pessoas que tiveram contato com os vaga-lumes, queimaram menos e não ofereceram riscos a outras pessoas próximas, desde que não estivessem tão próximas.
A população ficou eufórica, todos muito ansiosos para tomar a poção mágica, exceto alguns. Alguns por ignorância, outros por que achavam ou tinham certeza que não tinham gasolina em seus corpos a um ponto nocivo. Alguns, mesmo com essa certeza, tomaram a poção, cientes de estarem fazendo bem para a comunidade.
Enfim, quase toda a população estava com menos combustível em seu corpo, alguns pegavam vagalumes nas mãos pra provar que seu corpo não queimava mais. Então resolveram fazer uma grande festa para comemorar.
Naquela noite descobriram que a chama se escondia ainda em seus corpos. E mesmo que bem baixa, pela proximidade das pessoas que dançavam felizes em celebração, se propagou, e se espalhou por todos, crescendo e fazendo uma grande fogueira de corpos humanos.
Aqueles que pensavam não ter combustível em seus corpos foram os únicos sobreviventes naquela horrível festa, mas morreram logo depois…
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