A gente só adquire responsabilidade quando a água bate na bunda. Ou melhor, quando bate na cara. Quando alguém joga água gelada na sua cara e diz “acorda!”. E essa responsabilidade é um tanto ruim no atual contexto.
Aquela frase “enquanto não encontra a certa, se diverte com as erradas” (Nelson Rodrigues) deixou de ser tão divertida para mim. De repente me divertir com as erradas tornou-se algo como atravessar um trem fantasma, cheio de riscos e sustos.
Uma vez mamãe disse “coloca uma camisa pois vai esfriar”. Pois é, esfriou, eu não coloquei camisa nenhuma, e essa ideia me brocha. Perdeu a graça, perdi a confiança em mim mesmo, não sei até aonde eu sou o dono da situação. Vou tratar de colocar a camisa pois está muito frio agora. Mas na verdade minha vontade é ficar nu mesmo, e nem sair mais de casa. É mais gostoso ficar pelado em casa do que passear todo encapotado.
Mas como eu acho a certa sem sair de casa? Eu estou ficando velho. Já estou numas de quando paquero alguem, olho no dedo da moça pra ver se tem aliança. Neura de velho solteiro, que sente que tá acabando as frutas boas da feira.
O fato é que a água fria bateu na cara, tão fria que gelou tudo, vou ter que colocar uma roupa daqui pra frente. E confiar…. Confiar em mim, confiar em Deus, confiar nas erradas.
É…. Descobri isso também. É necessário ter confiança nas erradas também. E se já é difícil confiar na certa, imagina nas erradas! Mas é necessário sim. Não dá pra ignorar aonde andou, com quem, quando. É necessário confiar para acreditar que o mato que brota foi você quem plantou.
Isso tudo me faz encolher. Colocar a camisa pois vai esfriar? Acho que não será necessário. É difícil me vestir assim todo encolhido. E não to com vontade de levantar não.
Liga a TV pra mim, e fecha a porta quando sair… Boa noite!
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