
Geração Teoria
21 de agosto de 2024
Geração Teoria
21 de agosto de 2024Equilíbrio


O que acontece é que desde que ele nasceu, a vida dela virou um inferno. De repente, ela se tornou invisível e ele se tornou o centro das atenções. Quando teve consciência disso, não achava justo. A admirava tanto como superior, como quem veio primeiro, que fazia de tudo para conquistá-la, ter seu reconhecimentro, queria ser visto por ela.
Mas desde que ele surgiu, sua vida virou mesmo um inferno e ela só o via como martírio, como causa de todos os seus problemas. Ele então, cada vez mais se afastava, tentando ser de fato invisível para que as atenções de todos se voltassem a ela, tentando fazer com que tudo voltasse a ser como antes.
Sua ausência, porém, teve efeito contrário. Ao negar ajudas e presentes, para que esses fossem dedicados a ela, ele passou a ser admirado como ser forte e independente, a pessoa centrada, auto-suficiente, fortaleza pura. O rótulo da coragem era estampado em sua testa e escondia todo o seu sofrimento.
Ao mesmo tempo que buscava pela aprovação de quem nunca o aprovava, ele se escondia dos que o veneravam, para não ser mais do que ela, para que ela fosse mais cuidada. Ele cedeu bens, doou pertences, ofereceu apoio. Ela via os bens como pesos, os pertences como humilhação e o apoio como prepotência. E cada vez mais, o efeito contrario foi tomando conta e o sistema que os envolvia foi se tornando caótico e difícil de compreender.
Pra se sentir pertencente, ele foi criando uma fachada linda, com belas palavras, ações coerentes e um senso de justiça de um ser completamente iluminado., e com sua solidão estratégica, fazia toda a ajuda ser direcionada a ela. E assim foi se quebrando por dentro.
Depois de anos e anos cedendo, doando, estendendo as mãos e apanhando em silêncio, sem se queixar, sem pedir ajuda, acreditando que ela tinha seus motivos para lhe bater, ele se tornou só uma casca, fina e frágil. Prestes a se romper a qualquer instante, a qualquer sopro, e ela sabia.
Talvez ali estava o momento que ela tanto esperou para voltar a viver. O momento em que poderia enfim tirar de sua frente o que lhe impediu de ser feliz por toda sua vida em seu lindo castelo de cartas. A causa de todos os seus problemas e suas dores estava ali, jogada no chão, esperando a última e derradeira apunhalada, e quando ela o fez, com chutes e socos cheios de ódio e rancor, suas cascas fracas se quebraram todas.
Foi então que ele se libertou, e num rompante de fúria e insensatez, explodiu em luz, e ressurgiu. O que parecia destruição e fim, era na verdade renascimento. E a explosão reajustou todo o universo que os envolvia, colocando cada um em seu lugar.
Terminava ali décadas de uma aliança de injustiças, sofrimentos e anulações. A partir de então, cada ato teria consequências, e seria feita a divisão exata de carmas e dores, doado e tomado de cada um o que lhes seria de direito receber ou pagar.
Ninguém deve ser responsável pelas dores do outro. Se dói mais de um lado, essa dor deve ser equilibrada, seja curando um lado, ou aumentando o sofrimento do outro. Há boa intensão em tudo o que nos rege. E sabemos então que essa lei vai muito além da lei humana.