Kevin Carter já foi punido pela sua indiferença. Mesmo se dizendo arrependido, espantando o abutre, instruido a não se aproximar da criança sudaneza que fotografou em 1993, correndo o risco de contrair doenças, houve a indiferença, e a história poderia ter dito um final diferente. Esta criança poderia estar viva hoje.
Muitas pessoas poderiam estar vivas hoje se não fosse nossas indiferenças, nossos egoismos mesquinhos e naturais. Ainda mais nos dias de hoje, com toda a tecnologia e midias sociais. As pessoas não se olham mais, não se enxergam mais, não usam mais seus olhos. Apenas as câmeras de seus celulares…
Seja em um show, ou em uma tragédia, ninguém mais vive de verdade. Talvez querendo eternizar um momento ou pensando na publicação do mesmo, nas curtidas que receberá, em sua popularidade como Kevin Carter.
Eu não sou diferente, mas ciente disso, enquanto tento viver mais na realidade, as pessoas mergulham cada vez mais em seus mundos e vai se criando um precipício enorme entre mim e elas.
A comunicação se quebra, um brincadeira vira uma arma real, fatal. Uma palavra escrita toma tons de voz inexistentes e faz com que tudo se acabe, crianças morrem e abutres enfim tem seu alimento.
Será que eu posso me conformar e dizer aquela velha frase clichê “não era pra ser”, e me isentar de toda a responsabilidade, só filmando com meu celular, procurando o melhor angulo!?
Eu não consigo, e me irrito com isso. O precipício então aumenta.
Filmar, ignorando totalmente os problemas. Assistir indiferente, ou mesmo virando as costas sem participar, sem viver, fazer acontecer, definitivamente não é comigo. Fico louco, desespero, esperneio e o precipício aumenta ainda mais.
Já era… Não dá mais pra pular.
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