Parar na rua São Sebastião é fácil de sábado à noite. E quando você desce do carro, é como se lhe transportasse no tempo. Tipo aquele filme. Mas não era meia noite.
Eu fui parar ali sem querer. Estava muito quente e eu estava procurando um lugar que eu pudesse tomar um chopp com minha cachorra (a de estimação, com pelos). Ela não toma chopp, mas sente calor. E não era justo deixá-la em casa numa noite de sábado de verão.
Quando você desce do carro e pisa no calçadão, mesmo que em obras, você percebe o quanto Ribeirão é mal explorado. Boicotado pelos barzinhos da moda, ondinha ‘gourmet’, com filas enormes, preços ridículos e pessoas metidas e com pouco valor agregado, o centro padece.
Garçons a postos, mesas vazias, “ela pode ficar sem problemas” (para a minha cachorra). E chopp gelado na mesa, imediatamente. Enquanto ao fundo uma fila enorme para entrar em um desses barzinhos da moda, ou ‘de’ moda, pelo caráter cultural. Pelo status, pelo marketing criado, eu me divertia com a situação.
Que bom que ele existe ali, e essas pessoas se torturam para frequentá-lo, ignorando o resto. De qualquer forma, elas fazem com que ainda haja fôlego.
O centro de Ribeirão em um sábado a noite é mágico. Os prédios com suas ‘almas antigas’ exalam uma nostalgia boêmia de algo que está ali ainda, presente, mas esquecido, adormecido pois há o silêncio.
E então eu pensei que podia ter alguns artístas de rua. Alguém tocando um blues, ou chorinho, ou gaita (acordeon), com músicas francesas, tipo do filme, seria perfeito. E como se os prédios me ouvissem, realizaram meu desejo: “Se é isso que quer, te damos, para que ressuscite este lugar”.
Um casal, violão e acordeon, tocando músicas diversas, aparentemente despretensiosas, pretendendo trocados que vieram, daqueles que esperavam pra pagar uma fortuna por um chopp famoso. Eu vi até uma nota de cinquenta na mala velha jogada no chão, onde depositei alguns centavos e um pouco de prosa.
Eu alucinava, tomando o meu chopp igual, de longe, pensando nesse texto, no meu avô naquela mesma mesa a décadas atrás. Pensando num jeito de convocar a todos pra preencher aquele espaço novamente, além do modismo turístico da ave do hemisfério sul.
Então com este texto os convoco: Visitem o centro de Ribeirão numa noite de sábado. Levem seus charutos, seus dons artísticos. Estendam seus chapéus ou malas velhas e recolham as moedas que virão. Ou apenas gozem dos prazeres boêmios que tanto buscamos nos lugares errados…
Cachorros são permitidos!
Seu carrinho está vazio.
1 Comment
Muito massa Claudio, parabéns pela Crônica Real, realmente é o que acontece….