O ano era 1997. A internet era 1.0 e ocupava nossas linhas telefônicas com um ruido chato. As conversas online se davam em meios de “óh-ouw” do ICQ. Não existia Orkut nem nenhuma janela virtual.
…E de repente uma garota atravessa o bar em minha direção: “uma amiga minha quer te conhecer!”. E nos conhecemos, nos beijamos, no dia seguinte nos ligamos e explicitamos o quanto gostamos. E era assim!
Seis anos depois, essa mesma garota havia virado uma mulher e chegava ao fim um relacionamento cheio de cumplicidades, sinceridades e bons sentimentos. Eu estava de volta ao mundo e as coisas haviam mudado um bocado.
O ICQ havia morrido pelo MSN e um tal de orkut começava a aparecer, lentamente, cativando as pessoas por ser uma rede aberta, explícita, cheia de amigos virtuais.
Se você fizesse alguma coisa errada, ele te “prendia” e você ficava sem poder mexer por 1 semana, com uma foto de um bonequinho atrás das grades. Mas as coisas mudaram ainda mais. Hoje se você comete um erro, a rede social da vez não perdoa! Te lima, te exclui e acaba com tudo o que você construiu.
E na vida real não é diferente! Começamos a bloquear nossos albuns e nossas conversas e constantemente temos que nos mostrar superior ao outro, esconder as fraquezas, fingir que está tudo sempre muito bem! Colocar a foto mais bonita, ser sempre super criativo.
No passado eu mandava flores, escrevia poesias e enviava cartas, dessas escritas com tinta sobre a folha de papel. Dessas que a gente cola um selo e põe na caixa de correio! E como era gostoso esperar a resposta chegar com o carteiro. Diferente de entrar na internet a cada 10 minutos pra ver se responderam nosso post, para nós e para o mundo.
E é ai que as coisas começam a complicar. Não podemos dizer que amamos pois hoje é sinal de fraqueza. Ninguém pede mais ninguém em namoro. Agora é “se eu mudar meu status pra “namorando” você muda tambem?”…
Cada um quer se mostrar melhor do que o outro, melhor, mais forte. Os egos estão inflados e as pessoas querem se mostrar frias. Pra que?
Eu já vi muito relacionamento acabar por causa de joguinhos. Duas pessoas que se querem, ficar jogando até convencer a outra de que não quer e tudo acabar sem ao menos começar.
Eu quero poder voltar a escrever poesias. Quero poder ter tempo de conquistar, dizer que amo mesmo que seja só uma paixão boba, idealizada sobre as covinhas em suas bochechas. Quero poder ficar nu, explicitar quem eu sou sem me preocupar se vou parecer fraco. Quero poder lutar por quem eu desejo e ter tempo e direito de tentar conquistar.
Em épocas de google e facebook, todo mundo está muito evidente e por isso querem estar sempre com os olhos secos e a cabeça erguida, gritando “eu sou feliz”. Mas a quem estão querendo enganar? Quem fala a verdade quando diz querer estar solteiro? Ninguém quer estar solteiro! Todo mundo quer alguém mas como está sozinho, finge! Pois não quer que o Google te encontre cabisbaixo, carente.
Mas a partir de agora, se me procurar no google, você irá me encontrar nu, com todos os meus desejos, todas as minhas dores e acho que é assim que tem que ser. Temos que saber curtir nossas dores e nossas vontades como coisas belas, pois são elas que nos tornam o que realmente somos. Não nos esconder mais atrás de telas de computador ou mensagens de celular.
Chega de recadinhos sem destinatário em sites de relacionamentos. Sejamos explícitos e diretos a partir de agora, lutando pelo que queremos, libertando o que não queremos, sem jogos.
Se quiser ligar, ligue! Se estiver feliz, fale. Se sentir dor, grite. Se amar, explicite e curta cada sentimento sem querer ser diferente, parecer superior ao seu próximo. Seja você mesmo, se liberte de sites de relacionamento e se relacione de verdade, sem medo ou egoismo.
3 Comments
Nossa, Crauz! Disse tudo o que eu penso á respeito desta frescura de joguinhos que nos deixa angustiados,mascarados e frios. Temos fraquezas sim, e confesso, que não gosto de demonstrar o quanto um determinado telefonema mexe comigo, porque do outro lado da linha, um ego se infla e pensa"ela está na minha mão". Estou sim, mas e daí? O caminho é simples: Já que estou nas mãos , "pega" ou sai fora. Duas vias, simples e que levam a caminhos diferentes. Adorei saber um pouco mais sobre vc neste texto. Virei fâ. beijo!
Crauz! Vc falou TUDO! Amei o texto! Parabéns!
É bem como eu penso mesmo… já escrevi muito sobre isso…
Não consigo (e talvez eu não queira) me acostumar a esses tempos modernos…
Dê uma olhadinha no último post que fiz sobre isso: http://lucianasabbag.wordpress.com/2009/04/28/ficar-namorar-estar-de-rolo/
Beijos!!!
Muito legal o texto Claudio, show!!!.. it!!!