Ouvi dizer que as cantadas hoje em dia são “não verbais”… O cara olha para a menina, a menina olha para o cara, então ele balança a cabeça como quem diz “vamos?”, e ela a sorri ou vira a cara…
Ainda bem que eu vivi em outra época e mesmo que nunca tenha sabido como galantear uma mulher, sempre me dei bem com minha aparente despretensão.
O que me mata hoje é a privação do direito da fala, a ridicularização do “foi bom pra você” e o jogo. Joguinho medíocre para medir forças de quem precisa mais do outro, quem pode mais que o outro.
Me mata pensar que eu posso estar sendo massante com meu comportamento antiquado. Antigamente a regra era “ligue no dia seguinte, nem que seja para falar um oi”. Hoje, você tem que fingir que nada aconteceu.
E no meu caso atual, a embriaguez era tanta que parece que nem aconteceu mesmo. Foi um sonho bom e eu acordei sem saber aonde estava.
Queria tanto ter o direito da palavra: poder perguntar o que são os 2 reais que apareceram no console do meu carro. Será que eu cobrei pelo meu beijo? E cobrei só isso??? Eu queria lembrar a resposta (se é que foi dada) a pergunta “por que estou ficando com você?”.
Mas dai vem uma raiva, uma decepção, e então eu não quero saber mais nada. Eu queria mesmo acordar e ver que nada aconteceu, que o mundo continua justo, que as pessoas continuam sabendo conversar, sabendo dizer quando amaram ou quando não querem mais. Queria acordar e ver que algumas pessoas continuam tendo o brilho que pareciam ter antes do sol nascer.
Bom, espero acordar logo. Enquanto isso continuo dormindo meu sono pesado, que nem me deixa escutar quando o telefone toca. Será que ele tocou???
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