“Não tenha medo desse amor…
Ele é confortável e a paixão que atrapalhou tudo, vai se ajustar ja ja,
pra que tudo seja leve de novo e de espaço pra acontecer o que tiver que acontecer.
Quer seja pros meus anseios, quer seja para os seus…”(poesia final do texto da Semana 9)
E como sugerido por uma linda amiga, eu prestei atenção ao vazio que me propus ter em minha alma naquele momento que eu esvaziei todos os meus espaços, todos os cômodos de minha casa. No momento que eu parti para a vida nômade eu me propus a dar espaço para novas experiências, novas vivências. Conhecer novos costumes e condutas e mesmo que elas nem sempre me agradem, a proposta é de fato, essa!
Aquela sensação da semana passada, de que o nomadismo não faz mais sentido, é tão óbvia. Por que não precisa fazer sentido o tempo todo. É como uma atividade que você se aprimora a fazer e de repente você a faz sem ao menos perceber que faz, mas pode ter certeza que a faz tão bem que nem é mais sentido por si mesmo, mas por todos os outros ao seu redor. Então creio que meu nomadismo faz ainda muito sentido para todos que eu visito, conheço ou reconheço na minha trajetoria.
E um trabalho que pra mim é aprimorado e faço sem perceber, aos anfitriões de Trancoso, emocionou. Disseram ter chorado com o video que editei para eles, sobre a pousada deles, onde estamos hospedados no momento. Elogiaram exaustivamente um trabalho que pra mim foi tão simples e fácil de fazer. Ainda mais tendo sido feito a quatro mãos, com minha nova parceira que escolheu enfim continuar essa jornada ao meu lado.
Pra fugir da poluição humana, do som alto e copos plásticos na areia, a gente saia pra lugares mais distantes. E como uma analogia de toda vida nômade, são nessas saídas é que as mágicas acontecem. Desde Samanta latindo eufórica de tanta felicidade por ter perdido o medo do mar (e quem conhece Samanta sabe o quanto é raro ela latir) até os caminhos, antes nebulosos, se abrindo a minha frente. Como sempre foi, como sempre é. Eu ainda não me acostumei com isso e parece que faz parte do trajeto ter que se preocupar. Tolice a minha.
Então, numa dessas fugas, com a maré alta, fugimos do agito, caminhando pelo cantinho da praia, no restinho de areia que o mar ainda nos permitia estar, encontramos um bar fechado, com todas suas cadeiras posicionadas. Na ausência de turistas, funcionários ou qualquer outra pessoa, deitamos em uma delas e ficamos ali, admirando as ondas fortes que chegavam bem perto mas voltavam ao oceano sem nos atingir, como se uma força maior nos protegesse.
E não tenho dúvidas que essa força nos protege. Ali, com minha cachorra deitada tranquila e feliz ao meu lado, e no meu peito a pessoa que escolhi estar, bem acolhida, encaixada quase que ergonomicamente sob meu braço, mirando o mesmo mar, o mesmo horizonte, eu pensei nessa força. Na força das escolhas feitas. E pensei que se morresse naquele momento, morreria feliz. Havia conquistado enfim toda a paz que sempre almejei.
E percebi naquele momento, com esse pensamento que pode parecer mórbido, que mais vale o sentimento imediato, bem sentido e curtido em seu momento, do que o desejo de fazê-lo eterno, que em algum momento o faria perder o sentido, como tudo em algum momento parece perder pelo aprimoramento e repetição.
Eu não tenho dúvidas que minhas escolhas são sempre as melhores, e que assim como meu trabalho, eu me aprimorei tanto em fazê-las a ponto de não perceber quão bem as faço. Ainda mais agora, feitas a quatro mãos, essas escolhas são ainda mais fortes e cheias de magias e sentidos que talvez eu não perceba em um primeiro instante.
A paixão que atrapalhou tudo no início se ajustou. O vazio tomou conta de nossas almas e deu espaço para acontecer o que tinha que acontecer. E o melhor de tudo, nossos anseios se encaixaram como nossos corpos deitados na cadeira abandonada na praia, e assim como naquele momento único, seguem tranquilos, vendo as ondas que nos ameaçavam em vão…
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