Uma vez, quando eu tinha uns 20 e poucos anos, terminei um namoro com uma garota que era extremamente ciumenta. Ela superou bem o termino. Eu não! Quis voltar poucas semanas depois. Mas ela não queria mais saber de mim.
Então um belo fim de semana, já na madrugada do sábado, saindo da balada, resolvi que não iria pra casa. Peguei o carro e viajei 30km pra visita-la. Ela estava em uma cidade vizinha, na casa da avó dela.
Daria uma bela cena de uma comédia romântica eu, tentando pular o muro da casa da avó pra ir até o quarto onde ela dormia. Mas eu estava fraco, bêbado. Não conseguia subir meu corpo no muro. E depois de tentar algumas vezes, já com o braço todo ralado, desisti. Me sentei na calçada, encostado no muro, e me lamentei em lágrimas embriagadas.
Decidi ir embora, e quando estava saindo da cidadezinha pacata e vazia, avistei ela em um banco de uma praça, beijando um cara. Por que fazer surpresas é sempre muito arriscado, pois você pode encontrar coisas que não deseja.
Embora, quando você faz essas coisas, geralmente o que você encontra, é o que você tem que descobrir. É ótimo pra perceber essências ou resolver problemas de expectativas exageradas. Mas esteja preparado para o que vai encontrar.
E essa sétima semana começou assim. Mas eu não vou falar sobre isso. Eu não encontrei ninguém. Tive meus sonhos devorados, e só sobrou um pouco de açúcar pra melar o caminho por onde passei. Voltei sozinho pra casa (sozinho não! Com a Sam, que é minha parceira leal e fiel). Enfim, não quero falar disso. por que eu percebi que talvez seja esse o padrão que eu repita… O lamento!
O que eu percebi na estrada, enquanto eu voltava pra base em Torres, é que, as vezes, não encontrar nada, é tão bom quanto encontrar dores, e melhor do que encontrar coisas que não se sustentam. E no meio da semana, as coisas começaram a virar em minha cabeça. O sentimento foi de um lado para o outro, como um pêndulo buscando o equilíbrio. Amor e raiva se alternando constantemente.
Eu me atentei sobre estar perdendo a minha essência, sobre estar tentando ser leve. Mas então percebi que não há no mundo alguém mais leve do que eu. E o que pode parecer peso, na verdade é intensidade. Sim, eu sou intenso. Não gosto de viver na superfície de nada. Eu gosto da profundidade das coisas, dos sentimentos, das relações.
E não posso assumir a superficialidade dos outros, ou a falta de consistência que não flutua com o meu ‘peso’.
Eu já tive meu processo de auto-descobertas. E julgamentos, mesmo que velados, camuflados de amor e cuidado, não mais me farão me perder. Eu fiz o caminho mais longo, viajei 200km a mais, mas curti a paisagem, curti cada momento e não me culpo por querer viajar mais, ir atrás, conquistar o que almejo. Isso não é peso, isso não é defeito.
Mas tento ser empático e busco entender… Pensei que pode ser tipo quando você dorme com alguém e esse alguém cola em você. E você quer se mexer na cama mas não te sobra espaço. E você delicadamente empurra essa pessoa para não acordá-la. Pode ser que ela, invés de sair, suba em cima de você. Isso já me aconteceu na vida real.
E embora, mesmo que eu não tenha sentido isso, eu prefiro acreditar que fui empurrado com delicadeza, assim como fiz muitas vezes fora da metáfora. Prefiro pensar que eu não percebi, que subi em cima, que sufoquei, que incomodei por que estava dormindo, distraído.
E como faço pra acordar? Provoco o pesadelo. Alimento a raiva…
Me desculpe.
As pessoas nos roubam a energia pela ira ou pelo dó. E naquela tarde de quarta feira, quando eu alimentava a minha raiva, provocando o pesadelo pra acordar, eu consequentemente roubava a energia de outra pessoa, que de certa forma, me dava o que eu queria com conversas tensas e intensas por um tempo maior do que tínhamos usualmente.
Eu queria chorar, mas não conseguia. Até por que, estava na recepção do hostel. Como choraria ali? Mesmo sozinho, qualquer pessoa poderia chegar pra ser atendida. Na verdade, nem era isso. O choro não saia. Como se não tivesse um real motivo pra sair.
E de repente, distraído, eu comecei a prestar atenção a uma música que tocava e a letra me virou do avesso. Deixei a recepção por 1 minuto e chorei no meu quarto. Raiva, nervoso, amor, sentimentos ambíguos que eu não conseguia distinguir.
Nem toda a energia roubada antes me era suficiente, eu me sentia exausto. E quando deu 18h e chegou o outro voluntário que revezava comigo, eu sai pra praia pra passear com a Samanta e tentar ficar bem.
E então um fenômeno de luz surgiu no horizonte rabiscando todo o céu de maneira incrível (quem acompanha meu Instagram pode ver ao vivo). Sentei na areia e Samanta deitou calmamente do meu lado (diferente de seu estado de euforia normal quando está na praia) e ficamos ali por uns quinze minutos, mentalizando aquela pessoa que eu tinha roubado tanta energia antes. Tentando devolver a ela um pouco daquilo tudo que eu estava recebendo do Universo. Até que os raios de luz se dissiparam.
Nos levantamos pra ir embora, e começou um chuvisqueiro que logo virou uma grande chuva que nos encharcou, e lavou minha alma, e meu rosto, e meus olhos vermelhos. Sim…
A partir daquele dia, daquele momento, eu me estabilizei. Me reencontrei novamente. Recuperei a minha essência e minha vibração natural. O resto da semana passou lento e estável.
Boas conversas, bons insumos, bons momentos com pessoas velhas e novas que chegam e partem constantemente.
Ainda há o sentimento desconhecido. Ainda há momentos de ansiedade ou de ciúmes. Mas isso é um problema unicamente meu. Por que ainda há também a lealdade e cumplicidade que construímos antes, e isso é o mais importante.
Em uma breve analogia, eu diria que se estivéssemos em um parque, ao nos separarmos, eu deveria continuar minha rota, seguir pelo caminho combinado. Mas em algum momento, eu peguei uma trilha diferente, entrei no meio de uma floresta densa e escura e se ela voltasse, quando ela voltasse, eu não estaria mais onde ela costumava me encontrar.
Então respirei, percebi que estava perdido, me foquei e achei o caminho de volta. Voltei a seguir por ali, e continuo na minha trilha original, onde as pessoas sabem onde eu estou. E quem quiser estar comigo, vai me encontrar por aqui. Basta reduzir os passos, ou correr um pouco mais, que eu te alcanço, ou você me alcança. Independente de onde a gente irá parar, a gente caminha junto mais um pouquinho.
Eu volto a colher pitangas pra você.
É só não entrelaçar os dedos…
(Eu tenho cada vez mais me isentado de fotos e registros além do pensamento.
Me desculpem. Essa semana só teve essas fotinhos.)
Conteúdo extra:
Um email nunca enviado
Partindo do fato que eu vejo em você meu ideal, ou seja, eu gostaria de ter você pra mim, e só pra mim, é normal que eu sinta ciúme quando você está com alguém alem de mim, não sendo só minha.
E se você já foi leal e sincera que não quer ficar só comigo (te tornando ainda mais meu ideal de mulher pela lealdade e sinceridade), é normal que eu pense que a qualquer momento você receba algum crush, tinder, happn ou contatinho antigo. Até por que, ao meu ver, você é linda, atraente, interessante e pode ter o homem que quiser…
Então, é normal e aceitável que eu morra de ciúme. É normal que eu me contorça, rasgue lençóis, encha a cara, saia com outras mulheres só pra distrair… E isso é um problema exclusivamente meu, por que você não me deve fidelidade conjugal nem muito menos satisfação…
Agora, por outro lado, por toda lealdade e sinceridade que nós temos um com o outro, se em algum momento você dissesse ‘sim’ sobre ficar comigo de verdade, eu acreditaria que eu seria o suficiente, o escolhido, o único, e por tanto, ficaria tranquilo quando você me dissesse que estava acompanhada Pela confiança, saberia que estaria conversando, tomando uma cerveja, vendo um filme, com um amigo, amiga, ou até um ex-namorado ou rolinho, mas sendo fiel a mim.
Poderia, ainda assim, haver um ciúme, que eu imagino que seria muito menor do que tem sido, mas que também continuaria sendo um problema exclusivamente meu.
Se houvesse algum tipo de insegurança, ai sim seria um problema seu. Mas quando eu olho pra base de tudo o que construímos, ela é tão rígida e firme que eu acredito ser muito pouco provável que haveria espaço para inseguranças, e se houvesse, nossa total sintonia e abertura para conversar e trocar ideias, resolveria tudo em poucos verbos…
Enfim, acho que nunca vou enviar esse email, mas precisava escrever.
É só amor…
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