De repente algo que você deseja muito se apresenta. A solução de meus problemas: a venda de meu terreno para que eu consiga colocar a minha vida em ordem, quitar todas as minhas dívidas e tirar de mim o último peso que me prende a essa civilização comum das cavernas de Platão.
Foi com essa notícia que eu acordei na segunda feira, iniciando a semana, depois de um domingo leve, de bons papos e praia. Mas para receber isso, eu precisava cessar algumas esperanças. Eu precisava voltar pra São Paulo. Deixar pra trás todo o Sul que por algum motivo me faz o querer tanto.
Então, tentei levar algo comigo, que me fizesse voltar, mas meu convite foi negado e ai começou a tensão. Me senti como um elástico puxado pra dois lados opostos, tensionado ao extremo e ressecado, prestes a se romper. Não podia ser diferente… Rompeu.
A pressão e peso que fiz, que relatei em posts anteriores, fez romper o elástico e o ‘não’ enfático, repetido, veio de forma cruel, ‘blindado’ de sentimentos e empatia (me desculpe se você, quem lê, se ofende ou se irrita com essa acusação. Mas eu relato meus sentimentos aqui).
Então, como todo elástico que arrebenta, eu fui arremessado para o outro lado, com uma violência irracional: “Vou embora amanhã!”.
Preciso ir, preciso fugir desse lugar que parece enganar. Preciso me libertar desse Sul que me faz crer que tem algo aqui, mas sempre que estou aqui sou rompido por coisas e pessoas que não têm a intensidade que eu almejo.
De repente, eu começo a pensar que meus sentimentos por todos daqui são infinitamente maiores do que os que eles sentem por mim. Mas isso não é real. Só que é tão nebuloso agora…
Então, eu fui caminhar no final da tarde com Samanta. Com a cabeça a mil pois a venda do terreno também tinha esbarrado em problemas que humanos criam com suas leis e desconfianças. Fui no Parque da Guarita que é um lugar aqui em Torres que em síntese, são precipícios que caem no mar.
Me sentei na grama, na beira do ‘abismo’ e enfim aquela coisa que estava entalada no meu peito, saiu, sem vergonha, medos, sem ninguém pra interromper. Samanta veio até mim parecendo querer dizer ‘estou aqui’, e por ela, novamente, eu continuei só ali, aguentando firme.
Então, o dono do sítio de Viamão, onde eu fiquei em 2019, me chama no Whatsapp, do nada, e diz coisas que me mostraram como estou sendo bobo e me fizeram chorar ainda mais
“…tenha calma! nada é por acaso! e tudo tem seu tempo! importante é que vc é gente boa mesmo! Tu é 10, guri. Quando quiser vir aqui jantar comigo, saiba que essa casa é sua.
Dilemas emocionais… acho que é reflexo de algumas marcas e cicatrizes do passado que mesmo querendo vc não consegue acessa-las , vc acessa vez ou outra. E tomar conhecimento que vc é mais forte que tudo isso é fundamental!
tudo passa, tudo é aprendizado e se não der certo, nós levantamos e vamos de novo”
O momento que isso veio foi de uma sincronicidade surreal, mas o que eu respondi naquele momento foi ‘estou cansado de ter que me levantar toda hora e seguir de novo’. Era o que eu sentia. Mas é sempre necessário.
Fui para casa, tentei dormir e deixar as coisas voltarem ao normal, voltar ao meu centro, lembrar que eu não sou nem nunca fui um elástico. Sou corda firme, remendada, que enlaça, salva, resgata…
Acordei na terça com novos pensamentos. Pra algumas coisas, eu não tinha o que fazer, então o melhor era me focar em coisas que dava pra eu resolver. Ficar mais um pouco, cuidar de meus trabalhos práticos, esperar uma real necessidade de ir pra SP.
Pra outras coisas, manter a sanidade, enxergar os erros e tentar corrigi-los, com leveza, retomadas, voltar no ponto que peguei o caminho errado e fazer tudo direito. E assim ia seguindo. Medindo palavras, controlando a ansiedade, o ciúme e a saudade. Respirando!
Então decretei minha decisão de ficar mais um pouco, e recebi um abraço coletivo de amparo, amor e zelo, por todos aqui do hostel. Eu tenho me colocado sozinho, mas não estou sozinho aqui.
Um abraço apertado, olhos nos olhos, uma segurada forte em minhas mãos e as lágrimas escorreram nos nossos rostos: “eu jamais lhe pediria isso, mas fico muito feliz que você vá ficar mais. Eu preciso de você“…
Eu também preciso desse amor. Eu tinha me esquecido dele. É isso que me traz pra cá. Eu ficarei até quando der*.
E a decisão de ficar, dava uma sobrevida tola as esperanças. Mas eu tinha que me lembrar daquele ‘não’ enfático dito no dia anterior… Eu estive perdendo a leveza de fato. Pressionei de uma forma que me distanciava cada vez mais de tudo o que eu desejava. Era esse o ponto que eu tentava voltar pra seguir direito.
Ainda não conseguia lidar com a morte disso. Parecia que já estava morta, mas eu insistia numa massagem cardíaca cansativa. E eu estava muito cansado.
Você já sentiu seu peito pesado, uma dificuldade de respirar, só de pensar na possibilidade de nunca mais ver uma pessoa? Pois é. Eu puxava o ar com força e o soltava como um suspiro.
De qualquer forma, eu trabalhava para que essa massagem cardíaca não fosse cruel. Me ponderava com leveza, tentava mesmo retomar do ponto que nos perdemos, pra refazer tudo certo.
Mas mesmo assim, durante o resto da semana, eu recebia golpes constantemente. Pra me fazer cair de novo, com frases duras e estúpidas, decepcionantes, mesmo que compreensíveis (por que consigo ser empático e responsável pelos meus erros), mas que demonstravam que muito do que eu admirei, talvez fui eu quem criei em minha mente. Não existia de fato, ou se existiu, havia sido sufocado até sumir.
Mas também recebi golpes bons, de coração, de carinho, desses pra gente acordar e se mexer.
Então eu queria mandar a merda, dizer um ‘vai se fuder’, mas eu assumia minha parcela de culpa e respondia ‘ok, tá tudo bem’. Talvez isso seja maturidade! Sim, nem sempre a sinceridade é madura.
E como ser maduro que sou, eu retomei novamente minha sanidade. Sim, essa semana foi bem tensa. Teve altos e baixos constantes, mas eu consegui perceber tudo. Eu respirei e pedi um abraço, virtual que fosse. Esteja comigo, vamos corrigir isso, a gente é foda juntos, a gente consegue.
Estou esperando.
No mais, fechei algumas redes. O canal do Telegram se encerrou. Tirei minha foto do whatsapp, sei lá, só de pirraça. Eu preciso parar de me lamentar.
Enfim, estou esperando…
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