Família não é sangue. Eu aprendi que a gente pode escolher a família que a gente quer. E essa semana começou com escolhas muito importantes.
Existe a família de sangue, que a gente não escolhe, e eu me afastei um pouco deles pois alguns deles me machucavam e outros me não me deixavam florir com tanto zelo e sombra. Então há algum tempo eu resolvi caminhar sozinho, e depois de um tempo longe, hoje eu consigo enxerga-los como seres humanos passíveis de erro, perdoa-los e ama-los, mantendo-os em distância segura para mim, e principalmente para eles. Mas depois eu falo disso…
Eu decidi viajar sozinho, mas caminhando tanto tempo só eu e Samanta, sempre pareceu faltar alguma coisa. E de repente, apareceu na minha frente um passarinho lindo. Eu consegui chegar perto lentamente e pude pega-lo nas mãos. Tão lindo e encantador, com canto tão belo que eu queria só pra mim, por que pensei que seria legal ter um passarinho viajando com a gente, mas pra ele não fugir, eu quis coloca-lo em uma gaiola, e é desses passarinhos que sabe voar. Parou de cantar, quase o matei, e quase morri junto.
Analogias a parte, aquele abraço que disse precisar no último texto, enfim veio. Foi quase meia hora de conversa sincera, aberta, sem ressalvas nem resumos, como sempre foi. Era o canto que eu queria voltar a ouvir. E a gente colocou os pingos nos ‘ís’, e toda a agonia que eu passei e descrevi nas últimas semanas, se foi, carregada por palavras sorridentes pelo telefone.
Decidi soltar esse passarinho pra ouvi-lo novamente cantar. E seu canto me deu forças pra seguir minha jornada, voltar a voar também, pois também sou passarinho que voa. Embora minhas esperanças ainda existam, estão meio embaçadas, e eu simplesmente vou confiar no Universo, que sempre me proveu tudo o que eu preciso.
Voltando ao lance da família: O que acontece, é que a família de sangue que a gente deixa em distância saudável está lá. Mas é da natureza da vida, que em algum momento a gente comece a querer fazer uma nova família. E nem digo sobre casar, ter filhos etc., não necessariamente. Digo sobre pessoas especiais que você quer por perto, ou a uma distância segura, que lhe alcance, lhe segure. Pessoas que você escolhe pra estar contigo.
Vou escolhendo pelo caminho as pessoas que quero que caminhem comigo e com Sam. É tudo meio sem querer, sem pensar… Pessoas que pego pra cuidar e ensinar, ponho no colo, outras que me enfio em baixo das asas pra ser cuidado, uns só pra caminhar ao lado, e alguns pra caminhar bem junto, e assim vai, e eu vou elegendo quem serão os novos membros de minha família.
E esse passarinho… Eu o via no céu, ainda sem entender muito bem, distante, voando e cantando feliz, fazendo poesias quase a perder de vista. Não sabia mais como alcança-lo, mas mantinha esperanças que ele voltasse logo para mim. Até por que, embora alpistes ficaram pelo caminho e as frutinhas já não haviam mais, eu tinha uma estrelinha que ele desejava…
Os problemas com a venda do terreno se resolveram com a calma e o tempo, como tudo na vida. Mas ainda assim, pelas escolhas de quem fica e quem vai, eu teria que ir para Ribeirão, finalizar as negociações e iniciar um novo momento. Bem livre! Sem as amarras que ainda restavam por aquele imóvel.
Porém, ouvir o canto daquele passarinho, me deixava tranquilo pra ir e pra passear em outros cantos. Até recebi a visita de uma nova amiga, de uma pessoa maravilhosa para quem eu disse muito do que precisava ouvir.
É incrível como eu dou tanto conselho que me cabe, às pessoas. Tanta coisa que eu sei, mas não aplico. Mas de repente eu me vi a um suspiro de cometer os mesmos erros que julguei. A responsabilidade afetiva que eu teria ao assumir a alguns movimentos me fez repensar. Cuidei dessa nova amiga de forma diferente, com carinho, com palavras, com sinceridade e cumplicidade. Ouvi histórias, contei as minhas, contei sobre borboletas e passarinhos, sobre o passarinho que quase matei, e foi tudo muito leve e agradável, sem riscos, sem expectativas, sem nada além de abraços apertados e admiração.
A semana passou assim, distraída, passeante e leve…
Esse texto sai alguns dias antes pois amanhã eu pego a estrada. Serão dias difíceis pois a pandemia está muito preocupante. Mesmo sem ver o jornal, o hospital que fica aqui do lado não me deixa ignorar os fatos. O entra e sai de ambulâncias, as pessoas chorando na rua, a agonia visível em cada olhar…
Sei que será uma viagem tensa, talvez até pior do que foi o ano passado quando saí de Buzios. Dessa vez está pior. Vou pra Blumenau reencontrar uma pessoa especial que esteve comigo em Santa Rita do Passa Quatro. E talvez ali, será o último contato que terei com algo externo, até chegar em Santa Rita.
Mas eu estou em paz e seguirei tranquilo pois me sinto novamente amado. Não me sinto sozinho. Tem tanto amor aqui, e embora tenham ficado alpístes pelo caminho que passei pra esse passarinho voltar, creio que logo as flores virem frutos também, e já anseio o dia em que lhe entregarei a estrelinha, para que haja um par novamente…
“Não tenha medo nem se sinta desconfortável, ta!? É um sentimento bonito aqui. Meu coração fica em paz quando vc está em paz. Quando vc diz que está bem, eu fico bem tbm. Mesmo que estejamos dispostos a coisas diferentes, vc me acaricia com sua risada, quando ouço sua voz e ela tem um sorriso por trás… O simples fato de vc sorrir com letras ‘rsrs’ ou com emojis, demonstra que está em paz comigo e eu fico em paz tbm.
Não tenha medo desse amor… Ele é confortável e a paixão que atrapalhou tudo, vai se ajustar ja ja, pra que tudo seja leve de novo e de espaço pra acontecer o que tiver que acontecer. Quer seja pros meus anseios, quer seja para os seus…”
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