Antes de morrer eu tracei um caminho. Tijolo por tijolo, eu os coloquei, fazendo uma volta para trazer mais conforto a quem quisesse atravessar.
Dediquei minhas tardes e tracei um caminho. Pra quem quisesse passar, segui-lo, tendo como base toda minha força de vontade e esperança que passassem.
Hoje eu voltei lá e estava tudo tão diferente. O musgo tomou conta fazendo um carpete verde e macio. Matos cresciam por entre os tijolos, dando um ar de abandono e interferindo na noção de passagem.
De início, eu senti uma certa melancolia, mas me foquei no confortável toque de meus pés descalços naquele musgo macio. Agachei, e um a um, comecei a arrancar os matinhos.
Sem pensar no passado que os fez crescer, sem ter esperança que essa limpeza fosse útil para alguém no futuro. Apenas sentindo.
A vibração em cada raiz se rompendo abaixo dos tijolos, o cheiro de terra subindo, mesclado com o aroma de algumas folhas específicas quando rasgadas. O toque, a brisa, a percepção do mundo vivo, me ressuscitou.
Ninguém nunca atravessou esse caminho. Ninguém nunca cuidou para que ele se mantivesse, mas nesse momento, a única coisa que me importa, é estar ali, me sentindo vivo, nesse momento.
O momento é a única coisa que importa, é a única coisa que realmente importa. Este exato momento.
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