Ontem eu resolvi rever meu caminho. Descobrir em que ponto de minha vida eu fiz a curva que me tornou o que eu sou hoje.
Me lembrei de um colega de classe de meu ginásio em escola pública, que me agredia verbalmente com algo pouco agressivo. Ele me molestava me chamando de “filhinho de papai”, “filho de médico”, “riquinho” e outras coisas que não tem por que ofender, mas me ofendia.
Talvez por causa desse cara, eu já passei fome mas não pedi dinheiro ao meu pai. Pois pra mim, qualquer coisa é mais confortável do que aceitar ajuda de meus pais. Tenho o péssimo e ridículo hábito de caminhar sozinho, tropeçando e levantando sozinho e eles, muitas vezes nem ficam sabendo.
E é nesse caminho que eu não entendo qual foi a curva errada que me trouxe aonde estou hoje. Não sei se posso chamar de errada, mas é diferente do caminho que todos os outros seguiram. Posso pegar como exemplo o próprio colega de ginásio, hoje médico, cirurgião plástico, bem casado com dois filhos. E todos os meus outros colegas (ou a maioria deles).
Eu não. Continuo solteiro, sozinho, sem filhos, com poucos amigos (pois quando você casa, você se afasta dos amigos solteiros) e me sinto cada vez mais distante do caminho original, que todos seguem, e cada vez mais me parece mais e mais difícil voltar.
Então eu peguei coisas antigas, fotos, agendas, cartas, pra recordar em que ponto eu fiz essa curva. E eu encontrei uma curva perigosa em meu percurso.
Eu estava com uma garota linda, carinhosa, batalhadora e apaixonada por mim. Era um relacionamento posterior a um outro relacionamento traumático com uma dessas meninas que a gente pode classificar como interesseira (coitada dela, mal sabia quem eu era). Enfim, essa garota estava comigo sem saber que meu coração havia se transformado em uma pedra pelo meu relacionamento anterior.
Mas a gente não faz a curva sozinho. Parece que o Universo conspira para te fazer virar, e conspirou. Apareceram duas garotas me forçando a fazer essa curva. E o maior problema de todos é que elas estavam juntas nessa tarefa. As duas garotas me chamavam juntas e eu, homem, frio, traumatizado, com o coração inativo e todo o resto funcionando, não tinha como resistir a fantasia maior de todos os homens do planeta. Porém, eu não sei trair, e deixei aquela pessoa maravilhosa para poder me aventurar e dedicar a essas duas outras pessoas que só queriam se divertir.
Eu não sei se foi nesse momento que eu fiz a tal curva da vida. Talvez nem tenha sido. Mas descobri que a partir dai, nenhum dos meus relacionamentos foi intenso como os anteriores, e o mais curioso é que eu, depois de 6 anos, ainda não esqueci essa garota.
Eu a machuquei e ela fugiu de mim de maneira muito eficaz. Hoje eu a procuro por todos os lados. Redes sociais, sites de busca, listas telefônicas. Passo frequentemente em frente sua casa, mas nem sei como ela está, se ainda mora lá ou mesmo se ainda mora aqui. Casou, teve filhos, engordou, enriqueceu, morreu… Não sei.
Só sei que hoje, eu acredito que ali está a curva de meu destino. E mesmo que não seja com ela, eu quero voltar aquele ponto de minha vida e me dedicar novamente a uma pessoa.
O meu sentimento é que preciso encontra-la, mas acho que ela só é uma personificação inconsciente do tipo de pessoa que eu quero realmente encontrar. Essa pessoa pode até mesmo ser você que lê!
O fato é que meu coração não é mais de pedra. Ele é mole, frágil, vulnerável, e eu preciso voltar imediatamente até aquela curva, pois não consigo cuidar mais dele sozinho por muito mais tempo.
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