Reencontros é um projeto muito além de viagens. O nome escolhido ‘Reencontros’ faz cada vez mais sentido para mim. E neste momento, quando estou em ‘terra firme‘, em Santa Rita do Passa Quatro, na cidade onde eu nasci e passei minha infância, quando pensaria que não reencontraria nada, me reencontro cada vez mais.
No reconhecimento da necessidade de manter a energia, eu caminho pelas ruas como turista, olhando tudo como se fosse a primeira vez e faz tanto tempo, que parece que de fato é.
A praça dos Operários, o quanto brincar naquele coreto, e num ponto onde o calçamento tinha uma irregularidade, virava ‘rampinha’ pra saltar com a BMX. Grandes saltos…
A casa mal assombrada, que a vejo tão linda hoje. Morro de curiosidade de entrar ali, habitada, reformada, ao lado do terreno onde era o Bar do Chará, pista de skate que eu nunca andei. Era meio cagão, fazia o estilo free style.
Me lembro das andanças noturnas, com amigos que nem sei mais por onde andam, e cada passo retorna essas lembranças de maneira mágica e cheia de emoções.
A escada de pedras da Estação, onde ‘Muchiba’ cantava Nélson Gonçalves, ritmado pela batida do meu tecladinho a pilha, ou um pouco além naquela rua em curva que andávamos de skate a tarde toda, na frente da casa do Binho (Não me lembro o sobrenome).
As vezes descíamos pra comprar algo pra beber no mercadinho São Sebastião, que era um simples mercadinho com porta de ferro na rua de baixo. Muitas vezes a ida ao mercado era o final da sessão de skate, e compravamos um Q-Suco que íamos preparar lá na casa do Álvaro onde hoje é o Colégio Objetivo.
Olhar aqueles Flamboians, ali, imponentes até hoje, e lembrar do tanto que ficávamos trepados neles, olhando o movimento da Padre Pio Corso, quando não zoando com quem passava…
Continuo andando pela avenida e mal reconheço o prédio, que antes era o Balneário. Desde criança, sem entender muito bem, me era muito estranho que homens se reuniam naquele lugar pra ‘tomar sauna’. Soava como um lugar meio sujo.
Dali pra frente, não existia muito mais coisas. Talvez a casa da Branca de Neve, que levava esse nome pois tinha estatuetas no gramado da frente e era o ponto de referencia para virar a direita e chegar na FAPIS.
Em outro dia, por outro caminho, fui andar na praça da Matriz. Foi triste ver que não dá mais pra subir na Concha Acústica. O quanto ficávamos lá papeando até altas 23h da noite. Horário limite dos sábados de balada.
Os tombos no laguinho dos peixes e as decidas de mãos dadas, até a rua lateral do Nelson Fernandes. Ir lá era como ir ao paraíso. Um pouco mais velho, a escada da prefeitura já serviu de ‘cama’ com uma namoradinha. Um sorriso brotou em meu rosto quando lembrei daquelas pedras vermelhas.
Muitos usavam as escadas do consultório do meu pai com a mesma finalidade. Era o consultório de meu pai, então eu era privado deste lugar. Não queria correr o risco de passar essa vergonha.
Choperia Tropical, comprar cigarros pra minha mãe na Charutaria, pegar ônibus naquele barzinho da esquina pra ir pra Ribeirão, ou em frente do Bar do Fázio quando era pra Pirassununga. Todo sábado de manha lá ia eu fazer um curso de computação da Microlins que eu odiei com todas as forças do universo.
Delta, Gáudios, Bicão, e logo acima o salão da Associação, hoje a venda, e a vista. Dá pra ver o salão principal, com as janelonas onde a gente se escorava entre uma dança e outra. Nossa, como dançávamos. Até parei pra ficar olhando e fiquei lá viajando até que Samanta me chamou pro presente: “vamos continuar o passeio”…
Santa Rita do Passa Quatro, tantas casas mudadas, tantas outras mantidas. Praça redonda é anfiteatro, Xangrilá é loteamento, casa do Pi ainda ta lá, a da Dra. Isaura não dá pra ver, mas vejo os muros, os outros espaços de tantas festas, e da tia Silvia, do Gu e Dani, posso sentir o cheiro do salão de festas, onde orquestrávamos festas surpresas falsas, só pra haver festa, bailinho, pra dançar ao som de Bryan Adams entre uma partida e outra de Atari e um outro videogame estranho que eles tinham, com cuidado pra não esbarrar na mesa com quebra-cabeças quase montado de mil e não sei quantas peças…
Aqui pra baixo, eu me sento na praça, enquanto Samanta explora os gramados e fico tentando ver as estruturas do Matadouro, a estrada de terra que levava à ‘Serra Pelada’…
Tantas lembranças, tantas visões, que eu me reencontro de fato, me lembro do que era e recordo de tudo o que vivi pra me tornar o que eu sou.
Tudo mudou demais, mas a essência continua. Santa Rita está aqui e posso dizer que está linda. Embora todo mundo sumiu… Cadê vocês? Que tal um reencontro?
Quem leu tudo isso e se achou no texto, comenta ai, me fala a data e o local que eu vou. Vou mesmo, te reencontrar e lembrar de mais coisas!
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2 Comments
Minha nossa, sua escrita está tão perfeita que consegui enxergar cada lugarzinho da maneira que era. (Menos a casa de seus amigos, lugar de festa kkkkk…).
Saudades de um tempo que podíamos sair e nos divertir sem preocupações com o amanhã. Tempo esse que eu gostaria que meu filho de quase 15 anos podesse viver 1 dia, apenas para ver como era bom tudo que tento explicar para ele o que vivi.
Saudades tbm até da casa da sua mãe aonde passávamos mais tempo entre a casa e as salas de danças.
Muito bom ler “diario” faz bem a alma.
Grande abraço. ♀️
Parabéns pelo texto meu amigo, me vejo nessas palavras exatamente como vc descreve a cidade. Me vejo nos detalhes de suas lembranças.
Eu que precisei voltar em Santa Rita após 26 anos para tbem me reencontrar, me
Identifico muito com suas lembranças e suas saudades. Que possamos nos reencontrar muitas vezes para compartilhar histórias e reviver momentos que fazem hoje o que somos, pq sempre seremos os filhos dessa cidade iluminada.