Eu acredito muito que existam magos e bruxas. Acredito inclusive que existam sábios, daqueles de filmes, eremitas que vivem nas montanhas. Eu inclusive já conheci alguns por ai e posso afirmar com certeza, eles existem.
Esses velhos sábios, as vezes de aparência jovem, possuem uma única certeza, a certeza de que não sabem o bastante e por não saber, ficam em silêncio em suas montanhas, tentando saber o algo mais que nunca se basta. Por ter a certeza de não saber o bastante, se confundem quando alguém lhe aborda de forma assertiva. Retomam então seu silêncio, para decantar as informações vindas do nível do mar.
Talvez por isso, velhos sábios de verdade não descem das montanhas, nem muito menos usam mega-fones. Eles não alardeiam seus conhecimentos, só respondem quando são perguntados e falam sempre com um manto de incerteza, pois a certeza absoluta é armadilha do ego.
Mas em tempos modernos, onde a informação corre rápida por meios de comunicação digitais, um monte de ‘velhos sábios’ desceram de suas montanhas. Impacientes e ansiosos, acreditaram que já sabiam o bastante, baseados em cursos online de outros velhos sábios, ou contrariando as informações gritadas em mega-fones. Criou-se então uma grande rede, onde a informação corre de forma desordenada e disforme. Desinforma, confunde, finge que abre portais inexistentes, cria eventos astronômicos fictícios pra comprovar o inexplicável, improvável, fabuloso. A beleza desses discursos assertivos provoca então, ruídos.
E o velho sábio, aquele verdadeiro, ignora. Se mantem no topo de sua montanha, em seu silêncio.
Feche os olhos e ouvidos para os pergaminhos de sabedoria distribuídos em massa por ai. Silencie em sua própria montanha e aceite com amor todas as informações que lhe chegam em seu próprio silêncio.
A felicidade é um produto criado pela sociedade moderna, que antes era vendido sobre o consumo de bens materiais. Os falso profetas trouxeram a ideia de que você a encontra porém através do autoconhecimento, e lhe vendem isso abrindo portais e gritando falácias em seus mega-fones. Isso tudo é ilusão. Autoconhecimento de verdade traz surpresa e tanta dor que quanto mais você se auto-conhece, mais dúvidas você terá, e terá que buscar mais e mais, tornando essa jornada um ciclo vicioso sem fim.
O conforto real da vida não está na felicidade e sim na aceitação. Aceitar plenamente o seu estado de espírito e sua natureza, aceitar que você pertence a um meio e não pertence a outros, independente de sangue, raça ou ideologia. O conforto real da vida está no saber se mover sem culpa, rompendo laços, criando novos núcleos, olhando para suas próprias dores, paixões e intuições.
O velho sábio nunca desce da montanha pois sabe que não é tão sábio assim. O velho sábio mora dentro de você. A montanha é seu corpo, seu grande templo, sua mente e seu coração. No silêncio, você é suprido com todo o autoconhecimento que lhe é saudável. O que vem fora disso é excesso, consumismo do mundo moderno, mesmo que pareça iluminado.
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